A Justiça chinesa condenou à prisão perpétua o intelectual uigur Ilham Tohti, acusado de defender o separatismo e incitar o ódio étnico na província de Xingjiang, noroeste do país.
A severidade do veredicto surpreendeu amigos de Tohti e ativistas de direitos humanos, já que Tohti é considerado uma das vozes moderadas da minoria muçulmana uigur, que se concentra em Xingjiang.
Durante os dois dias do julgamento, realizado na semana passada, Tohti negou ter promovido o separatismo e afirmou que sempre tentou melhorar as relações entre a comunidade uigur e a maioria han, etnia à qual pertence 90% da população chinesa.
Ex-professor de economia em uma universidade de Pequim, Tohti era um crítico severo e contumaz das políticas do governo chinês em Xinjiang, que ele considerava cada vez mais repressivas e discriminatórias em relação à comunidade uigur.
No veredicto de 66 páginas, a corte de Urumqi, capital de Xinjiang, afirma que Tohti usou seu site na internet para propagar o separatismo e "coagiu estudantes a construir um sindicato criminoso", segundo a agência de notícias oficial, Xinhua.
O professor também foi acusado de "internacionalizar" a questão ao conceder seguidas entrevistas a veículos da mídia estrangeira.
Para analistas, embora moderado, Tohti pagou pela tensão dos últimos meses envolvendo a etnia uigur. Uma série de atentados em Xinjiang e outras províncias deixou dezenas de mortos e feridos. O governo acusou grupos separatistas extremistas uigures e a Justiça condenou vários à pena de morte.
No mais recente episódio de violência, duas pessoas morreram em explosões na região central de Xinjiang no último domingo.
O advogado de defesa de Tohti e ativistas de direitos humanos protestaram contra as condições injustas em que o economista foi julgado e afirmaram que o objetivo do processo foi calar uma voz crítica ao governo. Num sinal da importância dada ao caso, diplomatas de vários países foram a Urumqi acompanhar o julgamento, incluindo o embaixador dos EUA na China, Max Baucus.
Em entrevista concedida em 2010 ao jornal "New York Times", Tohti falou da pressão que sofria por ser o único intelectual a dar voz à insatisfação dos uigures.
"Sinto que estou sempre sob pressão. Não é medo, embora eu tenha sempre medo de que posso desaparecer a qualquer momento. É frustração e uma sensação de impotência", desabafou.