As técnicas utilizadas por agentes da CIA (agência de inteligência dos EUA) para obter informações sobre a Al-Qaeda nos anos que se seguiram aos atentados do 11 de Setembro foram mais brutais e menos efetivas do que a agência admitiu para a Casa Branca, o Pentágono ou o Congresso –ou seja, as autoridades foram enganadas pela agência.
Esta é a conclusão de um relatório do Comitê de Inteligência do Senado dos EUA divulgado nesta terça-feira (9).
O documento traz detalhes das torturas a que foram submetidos detentos em prisões clandestinas pelo mundo, como espancamentos, simulações de afogamento, privação do sono por mais de uma semana e até alimentação retal.
O relatório, que levou cinco anos para ser feito, tem mais de 6.000 páginas, das quais 524 foram divulgadas agora.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Entre os métodos descritos estão ainda banhos de gelo, isolamento, torturas psicológicas e ameaças de morte. Alguns dos presos chegaram a ser deixados durante dias dentro de compartimentos que lembravam um caixão.
Ao menos cinco detentos foram submetidos a procedimentos de reidratação ou alimentação retal sem necessidade médica, técnica classificada pelo chefe de interrogatórios da CIA como forma de impor "controle total sobre o prisioneiro".
Ao todo, diz o texto, 119 prisioneiros passaram pelas instalações secretas da CIA a partir de 2002. Destes, 26 foram detidos sem se enquadrar nos critérios do "Memorando de Notificação", assinado pelo presidente George W. Bush em 2001, que autorizava a agência a capturar indivíduos envolvidos com atividades terroristas.
"Esses presos incluíam um homem com deficiência mental, cuja detenção foi usada com o único propósito de fazer com que um membro de sua família fornecesse informações", afirma o relatório.
INFORMAÇÕES
Os registros da CIA mostram que 39 prisioneiros foram torturados. Diante dos abusos, muitos deles deram informações falsas aos agentes, levando a operações fracassadas. Sete não revelaram nenhuma informação.
Ainda de acordo com o relatório, o comitê reviu os 20 principais exemplos de operações bem-sucedidas contra o terrorismo, usados pela agência para justificar os interrogatórios e descobriu que eles "estavam errados em aspectos fundamentais".
Apesar disso, o alto escalão da CIA ressaltava a importância do programa para as operações, tanto em relatórios confidenciais para o governo quanto em discursos públicos. Um exemplo disso é a operação que levou à morte de Osama bin Laden, em maio de 2011.
Os registros mostram que a informação mais importante para o caso foi dada por um prisioneiro antes que ele fosse submetido a tortura.
Saul Loeb - 14.ago.2008/AFP | ||
Homem caminha sobre logo da CIA na sede da agência de inteligência dos EUA na Virgínia |
RESPOSTA DA CIA
Após a divulgação dos documentos, a CIA reagiu, em comunicado, afirmando que o relatório conta "parte da história", mas que há "falhas demais para que seja considerado como versão oficial sobre o programa".
Embora tenha admitido erros nas detenções e interrogatórios, a agência afirmou que "devemos questionar um relatório que impugna a integridade de tantos oficiais da CIA quando sugere que os relatórios da agência foram propositalmente deturpados em um esforço calculado para manipular."
O presidente Barack Obama afirmou que o relatório reforça sua visão de que "esses métodos não só são inconsistentes com os nossos valores como nação, como também não serviram aos nossos esforços de contraterrorismo".