• Mundo

    Thursday, 28-Mar-2024 07:09:14 -03

    Game que se passa na Revolução Francesa provoca polêmica em Paris

    DAN BILEFSKY
    DO "NEW YORK TIMES"
    EM PARIS

    13/12/2014 02h00

    Talvez só na França um jogo de videogame poderia provocar um debate filosófico sério sobre a decadência da monarquia, os custos morais da democracia, a ascensão da extrema direita e o significado do Estado.

    Os franceses estão furiosos com a imprecisão histórica e o viés político do jogo "Assassin's Creed Unity".

    Críticos à esquerda dizem que o jogo menospreza uma narrativa consagrada da Revolução Francesa -as massas miseráveis se rebelando contra uma nobreza mimada.

    Ambientado na Paris de 1789, meticulosamente reproduzida em 3D, o jogo faz parte de uma série popular, cujas versões anteriores tiveram como tema eventos históricos tais quais as Cruzadas e a Revolução Americana.

    Ubisoft via The New York Times
    Imagem do game Assassin's Creed: Unity, que se passa durante a Revolução Francesa
    Imagem do game Assassin's Creed: Unity, que se passa durante a Revolução Francesa

    A série, produzida pela empresa francesa Ubisoft, já vendeu quase 80 milhões de unidades desde que foi lançada em 2007.

    Na mais recente edição do jogo, o herói encapuzado é Arno Victor Dorian, jovem francês cujo pai foi assassinado em Versalhes e que não esconde sua satisfação ao pular sobre os telhados de Paris, incluindo a Catedral de Notre-Dame, matando sem piedade membros da nobreza e outros rivais com sua "lâmina oculta" ou sua pistola.

    Críticos do jogo, liderados pelo político agitador Jean-Luc Mélenchon, ex-candidato de esquerda à Presidência, descrevem o produto como sendo uma "propaganda" perigosa, que retrata as massas francesas como assassinos sanguinários, enquanto os abastados reis Luís 16 e Maria Antonieta são mostrados com simpatia.

    Em um momento de crise econômica e política, de crescimento do partido ultradireitista Frente Nacional e de impopularidade do presidente socialista François Hollande, Mélenchon disse na rádio France Info que o jogo ameaça espalhar o "ódio à República", que, segundo ele, se tornou generalizado na extrema direita.

    Mélenchon se irritou com o fato de o jogo não tratar Luís 16 como "traidor".

    Ele disse que Maria Antonieta, "aquela cretina" que foi rainha da França de 1774 a 1792 antes de acabar na guilhotina, foi erroneamente representada no jogo como "uma pobre menina rica", embora, segundo ele, tenha tentado conspirar para que a França fosse invadida.

    Mélenchon também disse à emissora que Robespierre foi difamado no jogo como "um monstro", e não foi considerado em seu papel de "libertador" e líder de um movimento que deu aos judeus o direito de votar e que tentou fazer o mesmo pelas mulheres.

    Em um blog hospedado pelo site noticioso Mediapart, o historiador Jean-Clément Martin, que prestou consultoria à Ubisoft no jogo, escreveu que "Assassin's Creed Unity" não tinha como finalidade agredir os franceses nem fazer um revisionismo histórico, mas criar uma "fantasia".

    "Que os adolescentes, sejam jovens ou velhos, joguem", escreveu. "Talvez eles tenham a ideia de ler um manual ou livro de história, e todo mundo sairá ganhando."

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024