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    Análise: Exame de resíduo de disparo é importante, mas não conclusivo

    RICARDO BONALUME NETO
    DE SÃO PAULO

    21/01/2015 02h00

    Quando se fala em resíduo de "pólvora" nas mãos de um atirador, como no caso do promotor argentino Alberto Nisman, obviamente se está usando a palavra de modo genérico, pois as armas modernas não usam mais a tradicional pólvora negra –feita com carvão, salitre e enxofre– para disparar seus projéteis.

    As armas de fogo modernas usam outras substâncias químicas como "propelentes" das suas balas.

    O correto tecnicamente é falar em "identificação de resíduos de disparos de armas de fogo". São testes de laboratório que podem indicar se uma pessoa disparou ou não uma arma -mas, como muitos exames laboratoriais, são sujeitos a falsos positivos e falsos negativos.

    Um cartucho de munição consiste basicamente em uma cápsula de metal (quase sempre feita de latão, liga de cobre e zinco) contendo o propelente e uma mistura iniciadora (uma "espoleta"), com o projétil na ponta.

    No disparo, a combustão do propelente cria o gás que vai impelir a "bala" na direção do alvo.

    Mas, neste processo explosivo, rápido e violento, outras coisas saem do cano: resíduos sólidos do projétil e da detonação da "pólvora" e gases como monóxido e dióxido de carbono, além de óxidos de nitrogênio (nitratos e nitritos). Esses resíduos se espalham pelo ambiente, mas em geral se concentram no que está mais perto -a mão do atirador e sua roupa.

    Mas já foram registrados casos de suicídio em que o teste foi negativo. Em um atirador, o resíduo também pode desaparecer depois de várias horas, pois não deixa de ser uma espécie de "poeira" que pode ser lavada da roupa ou das mãos.

    Há resíduos na forma de partículas esféricas típicas que podem ser detectados em análise por microscópio. E a composição química dos resíduos é também típica, notadamente com a presença de três elementos básicos -antimônio, bário e chumbo.

    Mas não se consegue afirmar com precisão se o resíduo foi proveniente de um disparo específico ou quando ele aconteceu; existem contaminantes comuns no ambiente, como nitratos; e bastaria alguém visitar um estande de tiro ao alvo para recolher algumas partículas.

    Um calibre pequeno, como o.22 (isto é, diâmetro do cano da arma com 0,22 polegada ou 5,5 mm), também produz menos resíduos. Este é o calibre da arma encontrada ao lado de Nisman, segundo a polícia. Há munições deste calibre que também não contêm todos os três elementos básicos. Revólveres produzem mais partículas esféricas do que pistolas. Quanto maior o calibre, maior o tamanho desse resíduo.

    A identificação de resíduos de disparos de armas é uma técnica importante, mas não chega a ser conclusiva.

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