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    opinião

    EUA deveriam ter levado a sério acordo entre Brasil, Turquia e Irã

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    04/04/2015 02h00

    Se os Estados Unidos tivessem levado a sério o acordo Brasil/Turquia/Irã de 2010 em torno do programa nuclear iraniano, o mundo teria perdido menos tempo e enfrentado menos dificuldades ao enfrentar o tema.

    É a conclusão que emerge após o acordo preliminar da quinta-feira (2) entre as seis grandes potências e o Irã.

    Comecemos por um detalhe técnico relevante: na carta que mandou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao primeiro-ministro turco Recep Erdogan, Barack Obama dizia ser "fundamental" que o Irã enviasse ao exterior 1.200 quilos de urânio pobremente enriquecido para ser enriquecido a um ponto compatível com seu uso pacífico e incompatível com a bomba.

    Esse ponto constava explicitamente do acordo Brasil/Turquia/Irã. Agora, o tamanho do estoque iraniano de urânio pobremente enriquecido é de 10 mil quilos (será reduzido a 300 quilos nos termos do acordo de Lausanne).

    Vê-se, pois, que o Irã avançou bastante em seu programa nuclear nesse lapso de cinco anos. Se o acordo de 2010 tivesse sido usado como base de uma negociação entre as potências e o Irã, em tese seria mais fácil um entendimento, pois os iranianos não estariam tão avançados.

    Do ponto de vista político, o acordo de 2010 também era importante. Obama havia dito a Lula e a seu chanceler Celso Amorim que os EUA precisavam de um país amigo que pudesse dialogar com o "inimigo", o Irã. O Brasil dispôs-se a esse papel, com relativo sucesso.

    Aproveitar a boa disposição iraniana em negociar com países aliados dos EUA, como Turquia e Brasil, serviria para, eventualmente, alcançar o mesmo que agora promete o presidente Hasan Rowhani: cooperar com a comunidade internacional.

    Ressalve-se, claro, que o presidente da época era o radical Ahmadinejad, ao passo que Rowhani é claramente um moderado. Por fim, Lula transmitiu a Ahmadinejad sua reclamação contra declarações do então presidente iraniano sobre o Holocausto (negando-o) e contra Israel.

    De certa maneira –e sem o peso que teria uma declaração das potências mundiais–, atendeu um ponto que, agora, Binyamin Netanyahu, o premiê israelense, está pedindo: que o acordo final com o Irã inclua o reconhecimento iraniano do direito de Israel à existência (obviamente a uma existência segura).

    Fica claro, pois, que o Brasil não foi naquele momento o "anão diplomático" como o qualificou recentemente um porta-voz israelense. Pena que tenha sido tratado como tal pelos EUA.

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