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    Amorim contesta fala de embaixador do Irã sobre acordo mediado por Brasil

    ISABEL FLECK
    DE SÃO PAULO

    19/05/2015 14h31

    Em sabatina na Folha na manhã desta terça (19), o ex-chanceler Celso Amorim disse estranhar as declarações do embaixador iraniano no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeh, de que o acordo negociado com as potências agora é mais positivo para Teerã do que o acertado entre Brasil, Turquia e Irã em 2010, quando ele era ministro.

    "É curioso porque as críticas que sempre foram feitas à Declaração de Teerã foi de que ela era insuficiente do ponto de vista do Ocidente, e agora o embaixador vem e diz que [a de agora] é melhor [para o Irã]", disse Amorim.

    Joel Silva/Folhapress
    O ex-ministro Ceso Amorim durante sabatina no auditório da Folha
    O ex-ministro Ceso Amorim durante sabatina no auditório da Folha

    "Mesmo admitindo que pode haver ganhos para os dois lados, se eu tivesse que lidar com a opinião pública americana, eu ficaria preocupado com a declaração de que, depois de anos, os EUA negociam um acordo que é mais favorável ao declarado adversário do que o que havia sido negociado pelo Brasil e pela Turquia, e que os EUA rejeitaram."

    Amorim reconhece que o acordo atual —que está sendo discutido entre o Irã o chamado P5+1 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha)— é mais amplo que o de 2010, que era mais "um gesto unilateral do Irã para ganhar confiança e possivelmente evitar que medidas fossem tomadas no Conselho de Segurança".

    "É até possível que, do ponto de vista do Irã, que estaria, por exemplo, prevendo uma eliminação mais rápida das sanções, esse acordo possa ser mais favorável para eles", disse.

    Para o ex-chanceler, que trata das negociações de 2010 em seu novo livro, "Teerã, Ramalá e Doha —memórias da política externa ativa e altiva", também chama a atenção o fato de os EUA negociarem um acordo agora, quando o Irã possui 10 toneladas de urânio levemente enriquecido.

    "Naquela época, o Irã tinha 2.000 quilos, e uma das razões apontadas pela então secretária de Estado [Hillary Clinton] para não aceitar aquele acordo, contrariando o que o próprio presidente dos EUA havia sugerido, era o fato de o Irã ter aumentado de 1.200 para 2.000 quilos. Agora são 10.000", ressaltou.

    "Evidentemente, com 10.000 quilos você está muito mais próximo de ter um pequenino arsenal do que com 2.000", disse.

    Segundo Amorim, Hillary "sempre se revelou mais cética" da possibilidade de um acordo com o Irã do que o presidente Obama. "Também não se pode supor que ela não concordava, senão teria pedido demissão", afirmou. "Acho que os fatores eram complexos."

    Ele revelou ter ouvido, depois, que nas três semanas que separaram o envio de uma carta por Obama a Lula e ao então premiê turco Recep Tayyip Erdogan respaldando as negociações e a divulgação da Declaração de Teerã, em 2010, Hillary teria assumido "compromissos com o Congresso norte-americano para que não adotasse sanções unilaterais e esperasse que ela conseguisse sanções do Conselho de Segurança da ONU".

    OBAMISTA

    Amorim contou ter escrito uma carta ao editor da "Foreign Policy", David Rothkopf, depois que este publicou um artigo no qual sugere que as negociações com o Irã serão o maior legado do governo Obama.

    "Não me contive. Disse a ele: 'Primeiro, Cuba, depois, o Irã. Engajamento no lugar de confrontação. A política externa norte-americana está cada vez mais parecida com a brasileira'. Ele concordou comigo", contou Amorim, rindo. "Nesse ponto, sou Obamista", completou o ex-chanceler.

    Apesar disso, ele revela que a relação do Brasil com os EUA durante o governo de George W. Bush era mais "direta".

    "Nós tivemos muitas discordâncias, muito óbvias, desde o início do governo. (...) Mas a relação com o Bush era mais direta", disse. "A impressão que eu tinha nas conversas com o presidente Obama é que ele não dava atenção muito real ao que estava sendo dito. Ele [nos] tratava bem, mas eu discernia um certo paternalismo."

    PROTAGONISMO

    Amorim rejeitou a ideia de que o Brasil tenha deixado de ser um importante ator no cenário internacional nos quatro anos de governo Dilma Rousseff.

    "O Brasil não caiu do mapa do mundo. O Brasil está presente no mapa do mundo, é sempre lembrado para funções, mas eu diria que os momentos variam", afirmou, citando que um dos principais programas de estudo em relações exteriores da Universidade Harvard inclui o Brasil na disciplina que estuda a política externa das potências.

    "Tenho a certeza de que, no médio e longo prazo, a curva [da política externa brasileira] é ascendente. Pode haver momentos em que, por uma necessidade ou outra, certos aspectos recebam menor ou maior ênfase", disse.

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