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    Estigma do ebola persiste após um ano de epidemia em Serra Leoa

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    ENVIADA ESPECIAL A MOYAMBA (SERRA LEOA)

    31/05/2015 02h00

    Há três meses o motorista Musa Mansaray não entra em sua ambulância para buscar pacientes infectados com o vírus ebola.

    Na manhã de quinta-feira (28), Mansaray estava sentado em um banquinho no centro de tratamento de ebola de Moyamba, Serra Leoa, batendo papo com colegas. O centro, administrado pela ONG Doctors of the World, tem cem leitos, mas está vazio. A última pessoa contaminada esteve ali em fevereiro.

    Na última semana, Serra Leoa teve três casos de ebola.

    Quando a Folha esteve no país, em agosto do ano passado, no pico da epidemia, eram registrados mais de 200 novos casos por semana. O hospital dos Médicos Sem Fronteiras em Kailahun estava lotado, com cerca de 80 pacientes.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Faz um ano que uma grávida e uma dona de casa foram diagnosticadas como os primeiros casos de ebola de Serra Leoa.

    As duas haviam participado do ritual funerário de uma curandeira na fronteira com a Guiné. Ajudaram a lavar o corpo, seguindo a tradição local. A curandeira tinha ebola, e 14 presentes ao funeral foram contaminados.

    Serra Leoa foi o país com mais infectados –ao todo, 12.745, dos quais 3.911 morreram. Na Guiné, foram 3.644 contaminados e 2.425 mortes. Na Libéria, houve o maior número de mortes –4.806, dentre 10.666 infectados.

    O governo liberiano comemorou o fim da epidemia neste mês, após completar 42 dias (o dobro do período máximo de incubação da doença) sem nenhum caso.

    Serra Leoa, porém, ainda não venceu o ebola e continua em estado de emergência. Permanece a regra do "não toque" –a doença é transmitida por contato com fluidos como sangue, suor e vômito de pessoas contaminadas. Ninguém se cumprimenta com aperto de mão.

    O toque de recolher vigora entre 18h e 6h, quando não é permitido ir a locais com grandes aglomerações, embora alguns bares e restaurantes já burlem a regra. "Esportes suados", como o futebol, continuam vetados.

    Mas a vida está voltando lentamente ao normal. As escolas foram reabertas em abril, depois de quase nove meses sem aulas. "Voltamos a ir para a praia", diz, animado, o auxiliar administrativo Musa Kanne.

    Estima-se perda de US$ 3 bilhões nos três países mais afetados pelo ebola, cujo PIB somado é de US$ 6 bilhões.

    Uma esperança é a retomada do turismo. A Air France restabelecerá voos para Serra Leoa. "Por enquanto, só há turistas 'humanitários', mas estamos otimistas", diz Casely Coleman, diretor da ONG Plan International em Serra Leoa.

    A jornalista PATRÍCIA CAMPOS MELLO viajou a convite da Plan International Brasil

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