País sem tradição de receber grandes fluxos de estrangeiros, a Polônia, que hoje abre as portas a milhares de ucranianos, já foi conhecida como um grande emissor de imigrantes.
Há 15 anos, o país era um dos que causavam, na Europa Ocidental, temores de uma invasão em massa de trabalhadores oriundos do Leste Europeu, possibilitada pelo processo de expansão da União Europeia.
O desconforto com a iminência da migração da força de trabalho e da competição de uma mão de obra barata vinda de países como Polônia, Hungria, República Tcheca e Eslovênia assustava vizinhos como Alemanha, Áustria e França.
Hoje, os estimados 400 mil imigrantes ucranianos que estão na Polônia, fugidos da guerra e da crise econômica, são vistos como uma oportunidade de preencher empregos vagos pelos poloneses que nos últimos anos deixaram seu país rumo à Europa Ocidental.
Para Marta Jaroszewicz, especialista em imigração do think tank OSW (Centro de Estudos do Leste Europeu), quando se analisa apenas o curto prazo, é possível afirmar que a Polônia está preparada para recebê-los, com instituições de recepção de emergência que podem orientá-los.
Mas, certamente, a integração trará dificuldades no futuro.
"Por enquanto, prevalece essa imigração de trabalho, que é de curto prazo, e os ucranianos se restringem a suas comunidades. Estão, portanto, 'invisíveis', até porque se parecem muito fisicamente com os poloneses", explica.
Tomasz Czuwara, coordenador do Ukrainian World, uma das novas instituições criadas para dar apoio a ucranianos, afirma que a entidade tenta promover a integração oferecendo aulas de idiomas e atividades culturais.
"Nós recebemos cem pessoas diariamente e usamos a cultura como plataforma para conectá-los. Também temos um psicólogo para lidar com os traumas da guerra, que são muito graves", diz.
O maior problema, segundo Czuwara, está na língua. "Mesmo os que têm educação superior se submetem a trabalhos braçais porque não podem exercer suas profissões sem o idioma. Vai demorar um tempo até que se adaptem."