O papa Francisco anunciou que vai permitir aos padres católicos que perdoem mulheres arrependidas que tenham feito abortos, assim como os médicos que fazem o procedimento, nesta terça (1º). A declaração foi feita em carta que detalhava as medidas que concederá no próximo ano do Jubileu.
"Decidi, não havendo nenhuma disposição em contrário, conceder a todos os padres no Ano do Jubileu o arbítrio para absolver o pecado do aborto àqueles que o possuem e a quem, com o coração constrito, buscam o perdão por isso", afirmou.
O pontífice argentino disse também estar "bastante a par da pressão" que as mulheres sofrem para abortar, afirmando conhecer "muitas mulheres que guardam em seu coração a ferida dessa decisão dolorosa".
O argumento usado pelo papa é de que "o perdão de Deus não pode ser negado àqueles que se arrependeram, especialmente quando alguém busca o sacramento da confissão com um coração sincero para que obtenha a reconciliação com o Pai".
AFP | ||
Papa abençoa hóstia durante missa na casa de Santa Marta, no Vaticano |
Francisco havia decidido celebrar um ano extraordinário do Jubileu entre 8 de dezembro de 2015 e 20 de novembro do ano seguinte, tendo como tema a misericórdia. Na tradição católica, os jubileus são anos dedicados à remissão dos pecados e ao perdão universal.
Até então, um fiel que buscasse o perdão de um pecado grave como um aborto não seria capaz de obtê-lo de um padre. A recomendação da igreja era que apenas os bispos deveriam lidar com esse tipo de confissão. Na prática, a decisão de Francisco descomplica o processo.
O papa, 78, que tem repetidamente instado a igreja a mostrar mais compaixão, disse que os padres deveriam usar "palavras de boas-vindas genuínas" às mulheres e médicos que os buscassem após o procedimento, mas ao mesmo tempo ressaltar aos mesmos que estejam conscientes "da gravidade do pecado cometido".
A decisão do pontífice é mais uma que o opõe aos sacerdotes mais conservadores do Vaticano. No início de agosto, Francisco já havia voltado a defender o acolhimento de divorciados, os quais são impedidos de receber o sacramento de acordo com o ensinamento tradicional da igreja.
"Quem estabelece uma união após a derrota do casamento não é totalmente excomungado, e absolutamente não deve ser tratado desta forma. Eles sempre pertencerão à Igreja, que deve manter suas portas abertas", afirmou, em audiência.
Francisco também deu declarações favoráveis à recepção de homossexuais ao longo de seu papado: "Quando Deus olha para uma pessoa gay, ele endossa a existência dessa pessoa com amor, ou a rejeita e condena? Nós devemos sempre considerar essa pessoa". Apesar disso, ele não retrocedeu em relação à posição oficial de que o homossexualismo é uma perversão e continua condenando a legalização da união de pessoas do mesmo sexo.
Em janeiro, durante visita às Filipinas, Francisco classificou as ideias sobre métodos contraceptivos e direitos LGBT como uma "colonização ideológica" que países desenvolvidos exercem sobre regiões pobres do mundo.
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ORA ET LABORA
Principais obras de Francisco à frente da Igreja Católica
Aborto
Permitiu aos padres conceder perdão a mulheres e médicos que fazem aborto e "àqueles que buscam o perdão" ao longo do próximo ano do Jubileu (do próximo dia 8.dez a 20.nov.2016)
Conselho de cardeais
Francisco foi o primeiro pontífice a criar um grupo permanente de oito cardeais do mundo todo para assessorá-lo
Sínodo da família
Em duas partes (a segunda será em outubro), a reunião de bispos do mundo todo debate os desafios das famílias católicas em temas como comunhão para fiéis divorciados e acolhida a homossexuais
Oriente Médio
Após sua visita a Israel e à Palestina, Francisco conseguiu reunir autoridades israelenses e palestinas no Vaticano para orações pela paz na região
Reforma econômica
Para evitar escândalos financeiros no Vaticano, Francisco abriu as portas da Santa Sé para auditores internacionais e criou o Secretariado da Economia, liderado pelo cardeal australiano George Pell
Abuso sexual
Criou uma comissão especial para lidar com acusações de abuso sexual contra crianças cometido por sacerdotes; é liderada pelo cardeal americano Sean O'Malley e tem vítimas de abusos entre seus membros
Ambiente
Francisco é o primeiro papa a fazer uma encíclica (principal documento com os ensinamentos do pontífice para a igreja) sobre a questão ambiental