A Turquia informou nesta segunda-feira (5) que interceptou um avião militar russo que teria violado o espaço aéreo turco perto da fronteira com a Síria enquanto fazia ataques contra o Estado Islâmico.
A invasão acontece cinco dias depois que Moscou começou a bombardear alvos da milícia radical e de rebeldes no país árabe, que há quatro anos enfrenta uma guerra civil.
Reuters | ||
Imagem do Ministério da Defesa russo mostra um dos locais atacados pelas forças do país na Síria |
Segundo o Ministério das Relações Exteriores turcas, a invasão ocorreu ao meio-dia de sábado (6h em Brasília) na província de Hatay. Dois caças F-16 turcos interceptaram o avião russo, que retornou seis minutos depois à Síria.
A invasão foi confirmada pela Rússia na tarde desta segunda-feira (5). O porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov, disse que o caça adentrou o território turco por "um curto espaço de tempo, por alguns segundos" devido às condições meteorológicas na região.
Devido à entrada da aeronave sem autorização, a Turquia convocou nesta segunda o embaixador russo em Ancara, Andrei Karlov, para fazer um protesto formal e pedir que não ocorram novas invasões.
No sábado, as autoridades turcas haviam comunicado o fato ao chanceler russo, Serguei Lavrov, e a quatro países da Otan —Estados Unidos, Reino Unido, França, Itália e Alemanha.
O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, disse ter recebido o pedido de desculpas russo. "O que fomos informados pela Rússia é que foi um erro que não voltará a acontecer. Nós tomaremos todas medidas necessárias contra qualquer um que viole as fronteiras da Turquia, mesmo que seja um pássaro."
Por outro lado, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, disse que a acusação turca é investigada pelos russos. "As informações estão sendo analisadas ainda, logo não posso dar certeza de nada neste momento."
BOMBARDEIOS
Assim como outros membros da Otan, a Turquia se opõe ao regime de Bashar al-Assad, aliado russo. No domingo, o presidente Recep Tayyip Erdogan pediu que Moscou parasse de atacar os rebeldes que querem derrubar o ditador.
"Assad comete terrorismo de Estado e infelizmente você vê a Rússia e o Irã em sua defesa. Estes dois países que colaboram com o regime serão cobrados por isso na história", disse Erdogan, em visita à França.
Apesar de fazer parte da coalizão americana contra o Estado Islâmico, a Turquia provoca críticas de seus parceiros por atacar grupos curdos. Os combatentes da minoria étnica lutam contra a milícia na Síria e no Iraque.
Os ataques russos começaram na semana passada, atingindo regiões dominadas por rebeldes moderados contrários a Assad. As ações ocorreram para fortalecer áreas controladas pelo regime sírio.
Depois, os bombardeios chegaram a regiões dominadas pelo Estado Islâmico e a Frente al-Nusra, vinculada à rede terrorista Al Qaeda. As duas milícias são alvos também da coalizão liderada pelos Estados Unidos.
Nesta segunda, o Ministério da Defesa russo informou que seus caças bombardearam nove alvos do Estado Islâmico nas províncias de Hama, Homs, Idlib e Latakia nas últimas 24 horas.
Porém, das regiões mencionadas, a facção está apenas em Homs, segundo a organização americana Instituto para Estudos da Guerra. As outras três têm presença da Frente al-Nusra e de grupos rebeldes moderados.
O mapa na guerra da Síria | ||
A Otan convocou uma reunião para discutir a invasão. Na Espanha, o secretário de Estado americano, Ashton Carter, voltou a criticar a Rússia por atacar os combatentes da oposição síria. "Por intervir militarmente na Síria contra alvos de grupos moderados, a Rússia fez crescer a guerra civil."
O grupo rebelde moderado Ansar al-Sham pediu união das facções que se opõem a Assad para combater contra a Rússia e o Irã. Por outro lado, Moscou recebeu nesta segunda o apoio de milícias xiitas iraquianas, que fazem parte das forças contra o Estado Islâmico.