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    Nova geração de brasileiros no Japão se integra melhor à sociedade local

    EWERTHON TOBACE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE TÓQUIO

    29/10/2015 02h12

    A aparência nipônica e o sotaque um pouco carregado quando fala em português podem até causar confusão, mas Bruno Issamu Murai, 26, é brasileiro e diz com entusiasmo que tem muito orgulho das suas origens.

    O jovem é desenhista-projetista de peças em 3D para trens da Japan Railways (JR), e trabalha numa empresa que constrói inclusive o famoso trem-bala. "Adoro o Japão, mas gostaria de um dia trabalhar no Brasil e, quem sabe, projetar um trem inteiro para ser usado lá", sonha o rapaz.

    O jovem faz parte de uma geração de brasileiros que nasceu ou cresceu no Japão, estudou em escola japonesa, fala o idioma local com desenvoltura e passou a desempenhar papéis mais ativos e importantes em diferentes setores da sociedade japonesa. "O engraçado é que, no começo, muita gente no trabalho não sabia que eu era brasileiro", se diverte.

    Arquivo pessoal
    Bruno Murai, projetista de peças para trens
    Bruno Murai, projetista de peças para trens

    No caso de Bruno, ele foi ao Japão com sete anos de idade. O pai havia sido transferido para abrir novos mercados para uma grande empresa brasileira.

    "Estudei desde o começo em escola japonesa, até me formar na faculdade de engenharia mecânica. Mas todo ano vou ao Brasil para visitar os familiares e sinto que lá existe menos pressão no trabalho, por exemplo", diz.

    Por isso, o brasileiro quer adquirir mais experiência no Japão e, no futuro, tentar um emprego no país natal. "O mercado ferroviário está se aquecendo e sei que há Estados brasileiros interessados em investir no setor", conta.

    Arquivo pessoal
    Bruno Murai, que é projetista de peças para trens no Japão
    Bruno Murai, que é projetista de peças para trens no Japão

    Fernanda Tachibana, 21, é outra que investiu nos estudos no Japão. Atualmente, a jovem está no último ano do curso de comércio exterior na Universidade Kanto Gakuen e trabalha em um restaurante brasileiro que recebe muitos clientes japoneses.

    Ela nasceu no Japão, mas estudou os primeiros anos de escola no Brasil. "Voltei para cá com 11 anos, e meu sonho é ir para outros países", conta.

    Arquivo pessoal
    Fernanda Tachibana, que estuda comércio exterior
    Fernanda Tachibana, que estuda comércio exterior

    Para ela, muitos colegas brasileiros ainda estão perdidos em relação ao futuro. "Mas vejo que a próxima geração está muito mais interessada em buscar empregos qualificados", opina.

    TENDÊNCIA

    Essa é a mesma opinião de Roberto Maxwell. Recentemente, o documentarista e repórter viajou por diversas províncias do Japão em busca de histórias que representassem a diversidade da comunidade brasileira residente no país para produzir o documentário "O Outro Lado do Mundo".

    Nessas andanças, ele diz que realmente percebeu um grande número de jovens cada vez mais ambientados nas duas culturas e bilíngues.

    "Mas há também uma grande parcela ainda que vive totalmente na comunidade, não fala o japonês e não tem grandes perspectivas futuras em relação a trabalho", diz o brasileiro, que é graduado em geografia e cinema e mestre em ciências sociais pela Universidade de Shizuoka.

    Bruno Taniguchi/Arquivo pessoal
    Roberto Maxwell, que fez o documentário "O Outro Lado do Mundo"
    Roberto Maxwell, que fez o documentário "O Outro Lado do Mundo"

    "Um terceiro grupo é o de brasileiros que nunca vivenciou a cultura brasileira e hoje se ressente de não ter tido acesso à brasilidade", completa.

    A tendência, segundo Maxwell, é ter cada vez mais brasileiros integrados à sociedade japonesa, assim como aconteceu com os descendentes de imigrantes japoneses no Brasil.

    "Os jovens estão buscando seu lugar no país, mas temos de lembrar que a população local ainda é muito resistente à cultura de fora."

    Yohan Tanaka, 25, é um dos que tenta quebrar esta resistência dos japoneses. O jovem compositor e cantor, que usa o nome artístico de YOHAN, recém-lançou um single, intitulado #PopLife, e tenta mostrar uma arte que é a mistura das influências no Japão com a brasilidade e a experiência como modelo profissional.

    "O Japão tem lados positivos e negativos para quem é estrangeiro, mas acima de tudo pode servir de trampolim para quem busca o sucesso profissional, pois ainda é um país de glamour e que desperta mistério", diz o jovem.

    Yohan chegou ao Japão com sete anos. Estudou em escola japonesa e, aos 12, voltou para o Brasil, onde concluiu o ensino fundamental.

    "Voltei para o Japão e comecei a trabalhar como modelo", conta. Depois de viajar toda a Ásia, fazendo editorias de moda e desfiles, o jovem foi trabalhar como vitrinista e diretor criativo em diversas empresas, como a Jimmy Choo. Agora, o jovem sonha com a carreira de artista e cantor.

    HISTÓRIA

    O ano de 2015 é especial nas relações entre Brasil e Japão. Além dos 120 anos de amizade entre os dois países, é também o ano em que se completam 25 anos desde que o Japão alterou a lei de imigração, permitindo que descendentes de japoneses até a terceira geração pudessem residir e trabalhar no país.

    Desde então, o número de brasileiros no Japão cresceu rapidamente e, em 2007, pico deste movimento conhecido como decasségui, chegou a 330 mil.

    Hoje, após a crise econômica mundial de 2008 e o terremoto seguido de tsunami em 2011, a população brasileira no país gira em torno dos 170 mil.

    Ainda assim, é a quarta maior comunidade estrangeira no Japão, atrás de chineses, coreanos e filipinos, e a terceira maior comunidade brasileira no exterior, depois dos Estados Unidos e do Paraguai.

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