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    Merkel reconhece rejeição, mas diz que não mudará política de refugiados

    JULIANO MACHADO
    DE BERLIM

    14/03/2016 18h27

    A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse nesta segunda-feira (14) que a derrota de seu partido em duas das três eleições estaduais deste domingo (13) foi um "dia difícil para a CDU [União Democrata Cristã]".

    Ela reconheceu que a rejeição de parte do eleitorado alemão à sua política de refugiados teve peso no revés, mas afirmou que não mudará seu rumo. "Em princípio vou continuar a fazer o que fiz nos últimos meses."

    Stefanie Loos/Reuters
    A chanceler alemã, Angela Merkel, concede entrevista após derrota em eleições regionais
    A chanceler alemã, Angela Merkel, concede entrevista após derrota em eleições regionais

    Para Merkel, a ascensão significativa do partido populista de direita e antirrefugiados Alternativa para a Alemanha (AfD) é um "problema", mas não um "problema existencial da CDU".

    No pleito deste domingo, o AfD conseguiu votos para ter representantes nos Parlamentos dos três Estados que foram às urnas —Baden-Württemberg, Renânia-Palatinado e Saxônia-Anhalt.

    Neste último, seu desempenho surpreendeu o país. Com 24% dos votos, obteve a segunda maior bancada, ofuscando a vitória da CDU, que terá de fazer alianças para governar na Saxônia-Anhalt.

    A reação de Merkel voltou a irritar os aliados da CDU e também da legenda-irmã União Social Cristã (CSU), que atua na Baviera.

    O governador do Estado, Horst Seehofer (CSU), disse que, após os resultados do domingo, "a resposta à população não pode ser: 'vamos seguir do mesmo jeito, como estava'".

    A chanceler criticou a falta de unidade de sua base: "Diferenças entre CDU e CSU são difíceis de se assimilar pelo eleitor."

    CENÁRIO PARA MERKEL E AFD

    Dois especialistas ouvidos pela Folha relativizam a dimensão do prejuízo das eleições regionais para a imagem de Merkel.

    Para o professor de ciência política e pesquisador de eleições Thorsten Faas, é preciso lembrar que os dois vencedores em Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado, ainda que não sejam da CDU, apoiavam o modo como a chanceler lida com os cerca de 1,2 milhão de refugiados no país.

    "Mas ela tem de buscar, sim, a unificação do discurso dentro da CDU. Os resultados foram um alerta que os partidos tradicionais não poderão ignorar para as eleições federais em 2017."

    O pesquisador Carsten Koschmieder, da Universidade Livre de Berlim, também aponta para a vitória dos "pró-refugiados" como motivo para Merkel não fazer grandes mudanças. "E ela já busca há algum tempo diminuir o fluxo migratório", afirma.

    Tanto Faas quanto Koschmieder são cautelosos em relação ao futuro do AfD, especialmente no âmbito nacional —a sigla, criada há três anos, ainda não tem cadeiras no Bundestag, o Parlamento alemão.

    "Partidos populistas costumam 'travar' na hora de fazer políticas construtivas. O AfD precisa mostrar se consegue 'entregar'", afirma Faas.

    Já Koschmieder diz não crer que, mesmo com o tema dos refugiados perdurando no debate político, o AfD ultrapasse 10% das preferências em pesquisas nacionais.

    "Frauke Petry [líder do AfD e figura ascendente na política alemã] não será chanceler porque há poucas opções de coalizão", afirma.

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