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    Valorizar padres ativistas é estratégia política do papa, diz estudioso

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A CÓRDOBA

    27/03/2016 02h16

    "Desde que iniciou seu papado, [Jorge Mario] Bergoglio [o papa Francisco] tem potencializado a versão popular da religião católica", diz à Folha o acadêmico Federico Finchelstein, professor da New School for Social Research, de Nova York.

    Portanto, a canonização do "cura" Brochero, figura ativa e de enorme carisma entre a população carente das serras de Córdoba, se encaixa no mesmo contexto de valorização da atuação dos "curas villeros" ("padres das favelas"), com grande atuação social em suas comunidades.

    Foi neste ambiente no qual o próprio Francisco se formou e criou um legado na periferia de Buenos Aires.

    Irmã Montiel-13.set.2013/Telam/Getty Images/AFP
    Peregrinos chegam à Villa Cura Brochero, 700 km ao norte de Buenos Aires
    Peregrinos chegam à Villa Cura Brochero, 700 km ao norte de Buenos Aires

    Numa Argentina em que 78% da população se declara católica, mas apenas 23% vai à missa, o papa tem algumas preocupações imediatas.

    Uma delas é conter o avanço dos evangélicos, hoje cerca de 12% da população.

    Outra é fazer com que padres de comunidades carentes se tornem mais atuantes diante dos devastadores efeitos da crescente pobreza no país, que, estima-se, hoje atinge 29% da população.

    "Bergoglio sempre quis separar a ação social da política partidária. Mas o fato é que ele entende suas ações como políticas, num sentido mais amplo do que as disputas de partidos", diz Finchelstein.

    Hoje, os "curas villeros" se tornaram o eixo de várias comunidades em todo o país.

    Em centros urbanos em que a ação do narcotráfico é grande, como Rosário, tornaram-se vitais. "São os únicos a entrar em certas zonas tomadas pelo crime e de fato ajudar a população, numa área em que o Estado não consegue atuar", contou à Folha o deputado rosarino Carlos Del Frade.

    Na ocasião em que a reportagem esteve em Famatina (norte), a população revoltava-se com uma companhia de mineração chinesa que ameaçava contaminar a água local, e era o padre Omar Quinteros que liderava passeatas, convocadas com o badalar dos sinos de sua igreja.

    MILAGRO SALA

    O estímulo do papa à ação social de religiosos e líderes comunitários de um modo geral, porém, tem causado fricção com o governo argentino.

    Recentemente, Francisco enviou um rosário a Milagro Sala, comandante do movimento Tupac Amaru, que está presa por transformar a organização numa espécie de para-Estado em Jujuy.

    O gesto foi visto como sinal de intervenção na política argentina. Para a deputada Elisa Carrió, "Bergoglio está empoderando pessoas violentas".

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