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    Disputa conservadora do segundo turno impulsiona economia do Peru

    DE SÃO PAULO

    11/04/2016 17h00

    A definição de um segundo turno entre dois candidatos de tendência mais conservadora em relação à economia deu forte impulso aos mercados peruanos, e levou a questão financeira do país ao centro do debate político.

    A apuração parcial das urnas indica que Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, e Pedro Pablo Kuczynski, conhecido como PPK, vão disputar o segundo turno.

    Mariana Bazo/Reuters
    A candidata Keiko Fujimori, à esquerda, e seu rival, Pedro Pablo Kuczynski, disputarão o 2º turno
    A candidata Keiko Fujimori, à esquerda, e seu rival, Pedro Pablo Kuczynski, disputarão o 2º turno

    Com 83% dos votos apurados, Keiko, do partido Força Popular, obteve 39,55% dos votos, seguida de 22,11% de PPK, do partido Peruanos pela Mudança. A candidata esquerdista Verónika Mendonza, ficou em 3º lugar, com 18,27% dos votos. O resultado final da apuração deve ser divulgado no fim do dia.

    A avaliação do mercado é de que com qualquer um dos dois candidatos no segundo turno, o modelo de livre mercado estabelecido há 25 anos no país será mantido. "No papel, os dois programas são muito similares", disse o economista Pedro Tuesta, da consultoria 4Cast.

    "Independentemente de quem vencer, é provável que continuem com o modelo favorável aos negócios e investimentos", considerou a consultora de risco político Eurasia Group em um relatório. "O resultado do segundo turno deve ser bem recebido pelos mercados financeiros", afirmou, por sua vez, Capital Economics.

    Com a disputa final entre Keiko e PPK, as ações do Peru amanheceram nesta segunda-feira (11) com seu melhor resultado desde 2008. A Bolsa de Lima subia 8,5% no fim da manhã e à tarde ultrapassou os 10% de alta, com valorização especialmente das empresas dos setores financeiro, industrial e de construção.

    LIVRE MERCADO

    Até uma semana antes das eleições do domingo (10), o mercado peruano estava reagindo negativamente à possibilidade de a candidata da esquerda passar ao segundo turno. Mendonza havia feito sua campanha com propostas de reformas do modelo econômico do país e mudanças na Constituição, o que era visto como um caminho avesso aos interesses do mercado.

    Keiko e PPK, por outro lado, têm propostas que parecem mais interessantes ao mercado. Keiko é a favor de mais acordos de livre comércio, redução de impostos, investimentos em infraestrutura, além de proteções ao trabalhador e aumento de políticas assistencialistas.

    O seu rival, o candidato liberal e economista PPK, também defende mais acordos de livre comércio, além da flexibilização trabalhista e manutenção dos planos de assistência sem aumento de gastos.

    Raio-x do Peru -

    'MILAGRE PERUANO'

    Impulsionado pela produção de minerais, o Peru teve quase duas décadas de crescimento econômico initerrupto. A economia do país viveu um "milagre peruano" entre 2005 e 2014 com o boom das commodities fazendo crescer a exportação de produtos da mineração. No período, o PIB cresceu em média 6,1%, com inflação de 2,9% ao ano.

    Paralelamente, uma continuidade na defesa da política de livre mercado e a associação com os países da Aliança do Pacífico tornaram o país atraente para o investimento estrangeiro. O Peru também impulsou o turismo gastronômico e de moda, que se somou ao já exitoso turismo voltado para ruínas de civilizações antigas dos Andes, em Cusco e Machu Picchu.

    O cenário para o próximo presidente peruano, porém, será bem menos favorável. De 2014 para cá, a economia desacelerou. O crescimento em 2015 foi de 2,7%, bem abaixo da média dos últimos anos, e a inflação subiu para 4,1%.

    Apesar do cenário de otimismo, economia do Peru é apenas a 48ª maior do mundo, segundo dados do World Factbook da CIA. O Produto Interno Bruto do país foi (em paridade de poder de compra) de US$ 385 bilhões em 2015, o equivalente a cerca de 12% do PIB do Brasil.

    Crescimento do PIB* (%) -

    SEGUNDO TURNO

    A vitória de Keiko Fujimori no primeiro turno não significa que ela esteja muito mais próxima de se tornar presidente, entretanto. As pesquisas de intenção de voto mais recentes indicam que ela terá dificuldades cenver o segundo turno, que será realizado em 5 de junho.

    Desde o início da campanha, a rejeição ao seu nome cresceu por conta das denúncias constantes sobre a situação do país na época em que seu pai governou o Peru.

    PPK, por outro lado, vai começar o segundo turno impulsionado por seu conhecimento sobre a economia do país. "Acredito que podemos voltar a ter um crescimento da economia de 5% por ano", disse nesta segunda (11).

    Uma sondagem divulgada no início do mês indicava que PPK teria sete pontos percentuais de vantagem sobre Keiko em uma disputa de segundo turno como a que acaba se se concretizar. Pelo menos 51% dos peruanos dizem que não votariam nela.

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