Em 13 de novembro, o americano Reynaldo Gonzalez perdeu a filha, Nohemi, 23. A estudante foi uma das 130 pessoas mortas no atentado terrorista em Paris reivindicado pelo Estado Islâmico. Na última terça (14), ele abriu um processo por reparação.
O alvo de Gonzalez não é, porém, a organização terrorista. Sua ação visa três gigantes da comunicação: Google, Facebook e Twitter. As empresas, diz, permitiram que o atentado fosse realizado.
Esse processo estabelece uma relação entre o uso de redes sociais e a atividade terrorista. Google, Facebook e Twitter estariam cientes de que os terroristas se aproveitam de suas ferramentas para recrutar membros e divulgar sua propaganda —mas não agem para impedi-los.
Reuters | ||
Nohemi Gonzalez, uma das 130 vítimas dos ataques em Paris, em novembro passado |
"Não estou sugerindo que essas empresas endossam o conteúdo", disse à Folha Keith Altman, um dos advogados de Gonzalez. "Mas elas têm consciência do que está sendo feito, e é possível limitar a habilidade do Estado Islâmico de utilizar esses sites."
A ação de Gonzalez não é a primeira nesse sentido.
Há um processo semelhante movido pela viúva da vítima de um ataque na Jordânia. Ademais, especialistas alertam há anos sobre a propagação de mensagens extremistas pela internet.
Um dos argumentos defendidos por entidades que combatem o terrorismo é que deletar contas de militantes só faria com que eles buscassem outras formas de se comunicarem. No meio-tempo, governos perderiam a chance de observar seus movimentos em redes como o Twitter.
Outra justificativa é a de que é impossível monitorar e peneirar todo o conteúdo divulgado por um site como o Facebook ou o YouTube.
Altman não se convence, porém. "Essas empresas têm como princípio exibir anúncios de acordo o perfil do usuário. Como não conseguem analisar os posts?"
APOIO MATERIAL
Após o anúncio do processo de Gonzalez, as empresas afirmaram que já tomam medidas contra o extremismo.
Segundo a agência de notícias Associated Press, o Twitter divulgou nota sobre como sua equipe investiga denúncias de violações.
O Facebook emitiu um comunicado semelhante, dizendo que, quando vê evidência de uma ameaça, entra em contato com as autoridades.
O Google, por sua vez, afirma ter regras claras proibindo o recrutamento de terroristas, e que rapidamente remove vídeos que violem suas normas.
Segundo a lei americana, essas empresas, em geral, não são responsáveis pelo material divulgado por meio de suas ferramentas.
Mas Altman insistiu, durante a entrevista, que esse não é um caso de conteúdo, mas de comportamento. Esses serviços, afirma o advogado, oferecem apoio material a atividades terroristas.
"O que seria preciso para impedi-los? Contratar mil pessoas para o monitoramento? E daí?", diz o advogado, para quem a decisão de limitar o acesso de terroristas às redes sociais é equivalente à de quem vê um bebê prestes a ser atropelado e, capaz, não age para salvá-lo.
Na opinião de Altman, empresas como o Twitter "podem fazer um trabalho melhor, mas não fazem".
Ele espera, assim, que o processo movido por seu cliente tenha ao menos o efeito de fazer com que as ferramentas sejam repensadas.
A ação ainda precisa tramitar, e o advogado prevê que seja recusada no fim de julho próximo. Entre idas e vindas de recursos, o processo poderia ser aceito no fim do ano e levado a julgamento. "É quando o trabalho pesado começa. Será uma batalha para anos", diz Altman.
Bem-humorado, ele cita o personagem espanhol Dom Quixote. "Não me importa quão grande é a empresa."
Tampouco lhe importa, diz, qual pode ser o valor recebido por seu cliente, caso vença a ação. "Nem estou pensando nisso. Pode ser zero ou milhões. O que queremos é que a morte de Nohemi não tenha sido em vão."
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