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    Terror na Europa

    Pai de vítima de ataque em Paris processa Google e redes sociais

    DIOGO BERCITO
    NO CAIRO

    19/06/2016 02h00

    Em 13 de novembro, o americano Reynaldo Gonzalez perdeu a filha, Nohemi, 23. A estudante foi uma das 130 pessoas mortas no atentado terrorista em Paris reivindicado pelo Estado Islâmico. Na última terça (14), ele abriu um processo por reparação.

    O alvo de Gonzalez não é, porém, a organização terrorista. Sua ação visa três gigantes da comunicação: Google, Facebook e Twitter. As empresas, diz, permitiram que o atentado fosse realizado.

    Esse processo estabelece uma relação entre o uso de redes sociais e a atividade terrorista. Google, Facebook e Twitter estariam cientes de que os terroristas se aproveitam de suas ferramentas para recrutar membros e divulgar sua propaganda —mas não agem para impedi-los.

    Reuters
    Nohemi Gonzalez of the United States, 23, who was killed by suspected Islamic State militants as part of a coordinated assault in Paris, in which 132 people were killed and more than 300 were wounded, is seen in this undated photo. Via Social Media Website ATTENTION EDITORS - REUTERS IS UNABLE TO INDEPENDENTLY VERIFY THE AUTHENTICITY, CONTENT, LOCATION OR DATE OF THIS IMAGE. NO COMMERCIAL OR BOOK SALES. FOR EDITORIAL USE ONLY. NO RESALES. NO ARCHIVE. FOR EDITORIAL USE ONLY. NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGNS. NO SALES. NO ARCHIVES. THIS PICTURE WAS PROCESSED BY REUTERS TO ENHANCE QUALITY ORG XMIT: TOR905
    Nohemi Gonzalez, uma das 130 vítimas dos ataques em Paris, em novembro passado

    "Não estou sugerindo que essas empresas endossam o conteúdo", disse à Folha Keith Altman, um dos advogados de Gonzalez. "Mas elas têm consciência do que está sendo feito, e é possível limitar a habilidade do Estado Islâmico de utilizar esses sites."

    A ação de Gonzalez não é a primeira nesse sentido.

    Há um processo semelhante movido pela viúva da vítima de um ataque na Jordânia. Ademais, especialistas alertam há anos sobre a propagação de mensagens extremistas pela internet.

    Um dos argumentos defendidos por entidades que combatem o terrorismo é que deletar contas de militantes só faria com que eles buscassem outras formas de se comunicarem. No meio-tempo, governos perderiam a chance de observar seus movimentos em redes como o Twitter.

    Outra justificativa é a de que é impossível monitorar e peneirar todo o conteúdo divulgado por um site como o Facebook ou o YouTube.

    Altman não se convence, porém. "Essas empresas têm como princípio exibir anúncios de acordo o perfil do usuário. Como não conseguem analisar os posts?"

    APOIO MATERIAL

    Após o anúncio do processo de Gonzalez, as empresas afirmaram que já tomam medidas contra o extremismo.

    Segundo a agência de notícias Associated Press, o Twitter divulgou nota sobre como sua equipe investiga denúncias de violações.

    O Facebook emitiu um comunicado semelhante, dizendo que, quando vê evidência de uma ameaça, entra em contato com as autoridades.

    O Google, por sua vez, afirma ter regras claras proibindo o recrutamento de terroristas, e que rapidamente remove vídeos que violem suas normas.

    Segundo a lei americana, essas empresas, em geral, não são responsáveis pelo material divulgado por meio de suas ferramentas.

    Mas Altman insistiu, durante a entrevista, que esse não é um caso de conteúdo, mas de comportamento. Esses serviços, afirma o advogado, oferecem apoio material a atividades terroristas.

    "O que seria preciso para impedi-los? Contratar mil pessoas para o monitoramento? E daí?", diz o advogado, para quem a decisão de limitar o acesso de terroristas às redes sociais é equivalente à de quem vê um bebê prestes a ser atropelado e, capaz, não age para salvá-lo.

    Na opinião de Altman, empresas como o Twitter "podem fazer um trabalho melhor, mas não fazem".

    Ele espera, assim, que o processo movido por seu cliente tenha ao menos o efeito de fazer com que as ferramentas sejam repensadas.

    A ação ainda precisa tramitar, e o advogado prevê que seja recusada no fim de julho próximo. Entre idas e vindas de recursos, o processo poderia ser aceito no fim do ano e levado a julgamento. "É quando o trabalho pesado começa. Será uma batalha para anos", diz Altman.

    Bem-humorado, ele cita o personagem espanhol Dom Quixote. "Não me importa quão grande é a empresa."

    Tampouco lhe importa, diz, qual pode ser o valor recebido por seu cliente, caso vença a ação. "Nem estou pensando nisso. Pode ser zero ou milhões. O que queremos é que a morte de Nohemi não tenha sido em vão."

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