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    análise

    Golpe vai ajudar Erdogan a governar com mão de ferro

    HUSSEIN KALOUT
    COLUNISTA DA FOLHA

    17/07/2016 02h00

    Não há nada mais pernicioso ao Estado de direto e às instituições democráticas do que um governo de corte autoritário —ainda que eleito democraticamente— sofrer um golpe militar.

    O deprimente episódio do golpe impetrado por uma facção das Forças Armadas turcas será mais um triste episódio da "era" dos golpes e contragolpes e da insubordinação do Exército ao poder civil da complexa história contemporânea da Turquia.

    Stringer/Reuters
    Surrendered Turkish soldiers who were involved in the coup are beaten by civilians on Bosphorus bridge in Istanbul, Turkey, July 16, 2016. REUTERS/Stringer EDITORIAL USE ONLY. NO RESALES. NO ARCHIVES. ORG XMIT: CVI12193
    Militares envolvidos na tentativa de golpe são cercados pela população turca

    O fracasso do golpe decorreu graças à ausência de apoio popular aos militares dissidentes e face à falta de adesão dos principais comandantes militares, fragmentando as Forças Armadas. No fundo, foi uma trágica presepada e um desserviço à democracia do país.

    O que já estava ruim pode ainda piorar. No plano interno, a perseguição aos meios de comunicação, aos políticos de oposição e a intimidação do Judiciário seguirão sendo parte dos traços da deterioração da situação política do país.

    Após 13 anos de hegemonia, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, arremessou o país em um emaranhado de problemas domésticos e internacionais.

    A expansão do autoritarismo sobre os setores público e privado em todos os níveis e as equivocadas decisões diplomáticas na esfera regional, puseram a Turquia na rota do terrorismo e aprofundaram a clivagem social. Além disso, gerou ainda a repressão política e a supressão indiscriminada a grupos étnicos, como os curdos.

    Se Erdogan já tinha uma tendência autoritária beirando a um namoro ditatorial, agora, mais do que nunca, ele poderá conseguir governar com mão de ferro.

    O que o presidente turco não conseguiu no Parlamento com suas manobras para avocar poderes constitucionais e modificar o regime de governo, alcançará agora. Fortalecido desse imbróglio, Erdogan usará todas as fendas para consumar o seu desejo e se perpetuar no poder.

    Em uma analogia distante, remanesce a ligeira sensação de que o golpe na Turquia terá "efeitos políticos" similares ao que aconteceu na Venezuela após o golpe contra o ex-presidente Hugo Chávez: Recrudescimento da força governante, perseguições políticas e aparelhamento das instituições estatais.

    No fundo, nos últimos anos, o ponto de fraqueza do governo Erdogan, seja nos contextos interno e externo, consiste em sua ambivalente política que circunda o conflito sírio. O seu velado suporte ao Estado Islâmico e sua pendular política na relação com a União Europeia acabaram minando a força de seu governo em diversos tabuleiros políticos.

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