RESUMO A advogada paulistana Carolina Rossini, 38, conheceu um americano no trabalho. Eles se apaixonaram e, um ano depois, em 2007, ela se mudou para os Estados Unidos. Hoje, o casal e o filho, Noah, 5, moram em Maryland, na fronteira de Washington. Contratada pelo Facebook, ela depositou o seu primeiro voto como cidadã na democrata Hillary Clinton.
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Carolina Rossini e o filho, Noah, no dia em que obteve a cidadania americana |
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É muito engraçado. Você passa por um monte de testes no Brasil, Fuvest, o que seja, e no teste para aprovarem a sua cidadania, você ainda fica nervosa.
Mas o cara que me entrevistou foi muito fofo. Ele fez cinco perguntas, em vez das três habituais. Eu acertei as cinco e aí, meu, comecei a chorar como uma tonta. Acho que foi alívio, sabe?
O cara foi buscar um lenço e falou "espera um pouquinho aqui, para o pessoal lá fora não achar que eu te maltratei". E eu falei "não! Você não me maltratou! Você me ajudou muito!".
O melhor: soube que os meus pontos de aprovação subiram muito com a minha sogra. Só por isso já valeu!
Todos os americanos que eu conheço me deram parabéns. Dá para perceber o senso de orgulho deles. Mesmo em um momento difícil como esse, de eleições, ainda mais com o candidato republicano, está todo mundo muito nervoso nos EUA.
Você vê um momento novo de direitos civis emergindo, de gente protestando na rua, o pessoal do Black Lives Matter [vidas negras importam, em tradução livre –movimento de ativistas negros]. Está tudo à flor da pele.
Depois da entrevista, marcaram o meu juramento para quarta-feira passada (3). Foi lindo. Havia 31 pessoas de 21 países diferentes, inclusive Iraque, Irã, com os quais os Estados Unidos não mantêm relações tão boas.
É muito bonito, porque eles aplaudem os países e falam que têm muito respeito pela sua pátria, mas te recebem de braços abertos.
No dia seguinte, fui votar.
Em Maryland, a menos que seja a sua primeira votação, como no meu caso, você não precisa mostrar carteira de motorista. Só precisa informar os seus dados e eles checam no sistema.
Um cara na minha frente na fila começou a gritar: "Mas como assim? E se tivesse alguém se passando por mim? E se alguém vota aqui e vai votar em outro lugar depois? Como você sabe se eu sou cidadão?". Aí eu já me aproximei para ouvir, né?
Eu falei: "Sir [senhor], primeiramente, pare de gritar com a coitada da mesária. Segundo, se você está votando ilegalmente, você está cometendo um crime federal e pode, inclusive, ir para a cadeia. E eles estão checando todo mundo no sistema".
Eu, que me registrei pela primeira vez, tive de mostrar toda a documentação. Então, eles de fato checam.
Até onde eu sei, o governo só localizou um caso, de uma mulher que tentou votar duas vezes em urnas diferentes.
O pessoal do meu lado agradeceu. E quando eu votei, a mesária gritou "First time voter! And she just became a citizen!" [Eleitora pela primeira vez! E ela acabou de se tornar cidadã!]. Todo mundo aplaudiu, o pessoal super-empolgado, superbonitinho.
Quase chorei. E fiquei vermelha, sou bem branquinha, loira. Sempre que fico meio assim, ashamed [envergonhada], fico corada.
Trabalho com direitos humanos a vida inteira. Com um potencial presidente de um país com tanto impacto no mundo que permite o sexismo, o armamento e é contra a imigração, você corre o risco de fazer parte de uma sociedade na qual a violência aumenta, porque é tolerada.
Eu brinco com os meus amigos que os Estados Unidos têm tudo de bom e tudo de ruim misturado em um lugar só. Uma coisa que me impressiona é que, ao redor de DC, tem muita pobreza, muita pobreza, e o pessoal não percebe muito isso.
Mas, diferentemente do Brasil, é o homem branco, pobre, viciado em droga ou com problema de alcoolismo. E é esse pessoal que está muito bravo e vota no Trump.
E muita gente boa até vai votar no Trump, mas por causa do Partido Republicano. Eles falam "ah vou votar no Trump, aí ele vai ser 'impeached', e aí o vice assume e tudo bem". É um pensamento muito perigoso.
Já passei por muita violência no Brasil. Assalto, arma na cabeça. Vários episódios. Não foi o motivo de eu sair nem nada. Mas, querendo ou não, eu tenho um filho e não quero que ele cresça em um ambiente de ódio, que ele passe pela mesma coisa.
Além de eu ser democrata de qualquer forma, votei na Hillary também porque a plataforma dela é muito boa na minha área de tecnologia, de mulheres, de educação.
Não estive no Brasil faz um bom tempo e perdi algumas eleições. Faz falta, voto desde os 16 anos e pretendo continuar votando.
Ainda bem que fiz parte do processo aqui e votei em uma pessoa que eu acredito que vai manter esse país em um curso razoável.
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