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    Presidente centrista francês terá que evitar dissidências em temas áridos

    ROGÉRIO ORTEGA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    11/06/2017 00h05

    Thomas Samson-21.mai.17/AFP
    French President Emmanuel Macron looks on as he delivers a joint press briefing with Italian Prime Minister (unseen) during their meeting at the Elysee Palace in Paris, on May 21, 2017. French President Emmanuel Macron met Italian Prime Minister Paolo Gentiloni in Paris ahead of next week's G7 summit in Sicily. / AFP PHOTO / Thomas SAMSON
    O presidente da França, Emmanuel Macron

    Se as pesquisas forem confirmadas, Emmanuel Macron, o ex-banqueiro e ex-socialista que em maio, aos 39 anos, tornou-se o mais jovem presidente da França, deve vencer o "terceiro turno" de sua eleição —que é como os franceses chamam o pleito para a Assembleia Nacional.

    O problema não será o resultado, mas o "day after".

    Mesmo sem a grande novidade que é o partido de Macron (o República em Frente!, formado em 2016 para viabilizar sua candidatura ao Eliseu), já seria um pleito de renovação, uma vez que cerca de 200 parlamentares —impedidos por lei recente de ocupar ao mesmo tempo cargos executivos locais- decidiram não disputar reeleição.

    O fato de a eleição legislativa francesa ter dois turnos (diferentemente do que ocorre no Brasil) e o segundo turno poder incluir até três candidatos para cada vaga torna mais difícil fazer previsões.

    As principais pesquisas, porém, apontam que o República em Frente! não só conseguirá as cadeiras necessárias para implantar o programa do presidente (no mínimo 289) como pode obter a maioria mais ampla desde o governo De Gaulle, em 1968.

    PÓS-ELEIÇÃO

    Nesse ponto, surge o problema que um conterrâneo do presidente, o escritor Jean de la Fontaine (1621-1695), chamou numa fábula famosa de "colocar o guizo no gato" —ou, traduzindo para o português, o que Garrincha (1933-1983) chamava de "combinar com os russos".

    Na Assembleia, Macron, que pela primeira vez na vida ocupa um cargo executivo, terá de controlar uma maioria que deve ser bastante diversa, misturando parlamentares veteranos e novatos. Precisará evitar dissidências em temas espinhosos.

    Além disso, a reforma trabalhista que o presidente propõe para estimular a criação de vagas —o desemprego na França está em dois dígitos— é vista como excessivamente pró-empresas e vai esbarrar tanto no poder tradicional dos sindicatos quanto numa oposição que se promete ferrenha, à direita e à esquerda.

    Tanto Marine Le Pen, a candidata de extrema direita que perdeu o segundo turno presidencial para Macron (mas obteve um terço dos votos), quanto Jean-Luc Mélenchon, o esquerdista radical que ficou de fora da segunda etapa, são contra a proposta.

    "Se os candidatos de Macron vencerem, vai ser uma briga feia", disse Mélenchon em entrevista à revista "Society", a que acrescentou uma crítica que não se restringe à esquerda: o presidente, diz ele, não tem a "base social" necessária para as reformas que deseja.

    Em suma, só depois da temporada eleitoral saberemos se Macron terá a habilidade política necessária para pôr guizos em vários gatos. É certo que não será fácil.

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