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    Ex-procuradora da Venezuela diz ser perseguida por denunciar corrupção

    REYNALDO TUROLLO JR.
    BELA MEGALE
    DE BRASÍLIA

    23/08/2017 11h50 - Atualizado às 00h05

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 23-08-2017, 10h00: O procurador geral da república Rodrigo Janot preside a XXII Reunião Especializada de Minist'rios Públicos do Mercosul, na sede da PGR. A ex procuradora geral da Venezuela Luisa Ortega Diaz, deposta do cargo pelo governo do ditador Nicolas Maduro, participa como convidada do MP brasileiro. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    A ex-procuradora-geral da Venezuela Luisa Ortega Díaz durante evento em Brasília

    Luisa Ortega Díaz, procuradora-geral destituída pela Assembleia Constituinte da Venezuela, disse nesta quarta-feira (23) que entregará às autoridades de quatro países, incluindo o Brasil, as provas que incriminam o ditador Nicolás Maduro e seus aliados em casos de corrupção.

    A dissidente chavista afirma que, dentre eles, estão as acusações relacionadas à construtora brasileira Odebrecht. O material será entregue também a procuradores de EUA, Colômbia e Espanha.

    "Essas provas tenho comigo e vou cedê-las aos Estados para que procedam a investigar as pessoas a que correspondam, a Nicolás Maduro, Diosdado Cabello, Jorge Rodríguez, não somente pelo caso Odebrecht", disse Ortega Díaz, em encontro de procuradores-gerais de países do Mercosul em Brasília.

    O constituinte Cabello e Rodríguez, prefeito de Libertador (município mais populoso do país), são considerados os dois principais dirigentes do chavismo depois de Maduro.

    Pela primeira vez, a ex-procuradora relatou que tem provas de que Cabello recebeu US$ 100 milhões da Odebrecht por meio de uma empresa espanhola registrada em nome de seus primos.

    "No caso Odebrecht detectamos que a Diosdado Cabello depositaram US$ 100 milhões na empresa espanhola denominada TSE Arietis."

    A companhia associou-se à Odebrecht no consórcio para a construção de uma linha de metrô e tem contratos com a petroleira estatal PDVSA.

    Cabello nega as acusações e ironizou a ex-aliada: "Você não pode investigar mais ninguém porque já não é mais procuradora", disse. "Disse que Maduro é dono de sei lá o quê dos Clap [programa de cestas básicas do governo] Por que você não investigou quando era procuradora, minha rainha? Parece que você está louca."

    Segundo a procuradora deposta, há 11 obras da Odebrecht paralisadas em seu país —no início do mês, ela acusou o governo de ter pago US$ 30 bilhões à empreiteira pelas obras inacabadas.

    Ela, porém, diz não ter detectado a participação de políticos brasileiros nos crimes.

    Sobre Maduro, Ortega Díaz diz que o ditador é dono de uma empresa no México da qual o regime importa a comida para as cestas básicas de seu programa de venda de alimentos escassos no país.

    Segundo a Folha apurou, as informações reveladas não têm ligação com os acordos de delação e leniência da Odebrecht. Os advogados da empresa se reuniram pelo menos duas vezes com Ortega Díaz quando ela ainda estava no cargo —uma em Brasília e outra em Caracas— na tentativa de fechar uma colaboração premiada.

    Porém, as conversas não avançaram porque medidas contra ativos e pessoas da empresa continuaram a ser tomadas pelo governo. Uma delas foi o pedido de prisão de Euzenando Prazeres de Azevedo, que foi diretor da empreiteira no país.

    Procuradores venezuelanos que trabalharam com Ortega chegaram a viajar para o Brasil no começo de agosto para ouvir o marqueteiro João Santana e a mulher dele, Mônica Moura, sobre campanhas realizadas no país.

    Em sua delação, Mônica afirmou que a Odebrecht pagou "por fora" US$ 11 milhões pela campanha de Hugo Chávez à reeleição, em 2012.

    Ortega chegou ao Brasil na noite de terça (22) acompanhada por assessores e pelo marido, o deputado Germán Ferrer. Eles estavam desde a última sexta (18) na Colômbia, onde ela quer se asilar.

    O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira, também ofereceu asilo à ex-procuradora, mas ela afirmou que pretende permanecer na Colômbia.

    Pelo acordo feito com o Departamento de Justiça dos EUA, a Odebrecht teria pago US$ 98 milhões a políticos venezuelanos —montante menor só ao pago no Brasil.

    JANOT

    Na abertura do evento na PGR, a 22ª Reunião Especializada de Ministérios Públicos do Mercosul, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, destacou o apoio das instituições da região a Ortega, tratada como a "legítima procuradora-geral" da Venezuela.

    "Assistimos a um estupro institucional do Ministério Público venezuelano. Sem independência, o Ministério Público do nosso vizinho ao norte não tem mais condições de defender os direitos das vítimas e acusados nem de conduzir investigações criminais ou atuar em juízo com isenção", disse Janot.

    Para ele, a destituição de Ortega pela Assembleia Constituinte foi "ilegítima" e a própria Assembleia foi "escolhida num processo eleitoral recheado de suspeitas de fraudes". Janot disse ainda que o governo venezuelano tem características ditatoriais.

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 23-08-2017, 10h00: O procurador geral da república Rodrigo Janot preside a XXII Reunião Especializada de Minist'rios Públicos do Mercosul, na sede da PGR. A ex procuradora geral da Venezuela Luisa Ortega Diaz, deposta do cargo pelo governo do ditador Nicolas Maduro, participa como convidada do MP brasileiro. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    Luisa Ortega Díaz (à dir.) e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante evento em Brasília

    OUTRO LADO

    A Odebrecht nega que as 11 obras na Venezuela estejam paralisadas. "O ritmo das obras em execução acompanha o cronograma de pagamentos dos clientes locais."

    Em nota, a empreiteira disse que "está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua" e que "já reconheceu os seus erros [...] e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas".

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