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    Políticos do chavismo e da oposição mandam filhos para fora da Venezuela

    SYLVIA COLOMBO
    DE BUENOS AIRES

    05/09/2017 02h00

    As cenas do prefeito de Caracas, Jorge Rodríguez, seguido por um opositor no bairro nobre de Condesa, na Cidade do México, no último dia 20, tomaram as redes sociais.

    "Você veio gastar aqui o dinheiro sujo de sangue dos venezuelanos?", pergunta o rapaz a Rodríguez, que primeiro tenta arrancar o celular dele, depois sai andando rapidamente.

    Jorge Rodríguez

    A provocação não é gratuita. Na noite do último dia 30 de julho, após a votação para a Assembleia Constituinte, em Caracas, Rodríguez era um dos governistas mais exaltados ao celebrar a votação que considerava "um retorno das eleições recordistas do chavismo".

    Um dia antes, em entrevista à Folha, Rodríguez dissera que a Venezuela era um exemplo de democracia se comparada aos EUA, "cujo presidente perdeu no voto popular" e ao México, pois, "se [Enrique] Peña Nieto convocasse uma eleição como esta, ele perderia, de tão desacreditado que está".

    Menos de um mês após criticar os países que não reconheceram o processo eleitoral venezuelano, Rodríguez foi visto levando os três filhos à escola e à universidade (o mais velho cursa medicina) na Cidade do México.

    O fato de tanto filhos de governistas como de opositores do ditador Nicolás Maduro viverem hoje no exterior é um termômetro da tensão na Venezuela.

    Como Rodríguez, outros altos funcionários e empresários próximos a Maduro mandaram suas famílias para longas temporadas fora do país.

    É o caso do ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, que tem os seus filhos vivendo em Madri, do ex-chefe de inteligência, Hugo Carvajal, cuja filha está nos EUA, da juíza Carmen Zuleta de Merchan, cujo filho vive em Roma, ou de Rosinés, uma das filhas de Hugo Chávez (1954-2013), que vive na França.

    Reprodução/@dianadagostino/Instagram
    O deputado Henry Ramos Allup com a mulher, Diana D'Agostino, os filhos; os três saíram da Venezuela
    O deputado Henry Ramos Allup com a mulher, Diana D'Agostino, os filhos; os três saíram da Venezuela

    LISTA

    Enquanto blogueiros e ativistas antigoverno se dedicam a seguir os passos dos filhos de chavistas no exterior por meio das redes sociais, para depois expor suas atividades e localizações, a oposição, porém, se divide.

    O deputado Henry Ramos Allup já havia proposto que se formulasse uma lista pública de todos os funcionários do governo e militares que enviaram os filhos para fora da Venezuela.

    "Narcocorruptos e chavo-maduristas falam o diabo do império, mas eles e suas famílias se matam por um visto dos EUA para gastar lá o que roubam aqui", disse, nas redes sociais.

    Já o deputado Freddy Guevara, também opositor, considera a atitude pouco ética, porque estimula o assédio a jovens e crianças que não têm culpa das atividades políticas dos pais. "Não é correto, nem moral nem politicamente, assediar os filhos dos funcionários públicos", disse.

    Há opositores, por sua vez, que também se veem levados a enviar seus filhos para o exterior para que não sofram perseguição na Venezuela, diz María Corina Machado.

    "Meus filhos não queriam ir, mas eu sabia que só poderia continuar minha luta em paz aqui se não ficasse o tempo todo temendo pela segurança deles", disse à Folha.

    Hoje, com os três vivendo nos EUA, ela se diz mais tranquila. "Eu achava que eles deveriam ficar em Caracas até o dia em que me ligaram e a voz do outro lado me perguntou: 'Você sabe onde estão seus filhos?'. Então não tive dúvidas de que eles tinham de ir."

    Em fevereiro último, também Ramos Allup anunciou que havia enviado seus três filhos adolescentes para fora do país, sem dizer para onde, após receber ameaças.

    Já a mulher de Leopoldo López, Lilian Tintori, que está grávida, passou alguns meses deste ano em Miami com os dois filhos do casal.

    Voltou, mas ao tentar sair novamente, no fim de semana passado, para viajar à Europa em campanha pela libertação dos presos políticos no país, teve seu passaporte confiscado por ser alvo de uma investigação do regime.

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