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    São Paulo ganha seu primeiro memorial do Holocausto

    DIANA LOTT
    DE SÃO PAULO

    05/11/2017 02h00

    São Paulo ganhará no próximo dia 12 sua primeira exposição permanente dedicada ao Holocausto judeu.

    O Memorial da Imigração Judaica, que abriga a primeira sinagoga do Estado de São Paulo, no bairro Bom Retiro, ganhará novo andar inteiramente dedicado a esse episódio histórico e passará a se chamar Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto.

    A decisão de criar a mostra se justifica pelo momento histórico, explica Reuven Faingold, diretor de projetos educacionais do memorial e membro da sua curadoria.

    "Esta geração de sobreviventes está minguando, em breve não teremos ninguém. Vai sobrar a documentação e os museus e memoriais ao redor do mundo", afirma.

    Para o professor, o Brasil "corre atrás do tempo perdido". Com apenas um museu dedicado ao Holocausto, em Curitiba, Reuven conta que a maioria dos alunos que visita o memorial desconhece essa parte da história.

    "Os alunos escutam que existiu o Holocausto, que os judeus morreram na [Segunda] Guerra. Na melhor das hipóteses, escutaram o número de seis milhões de judeus mortos, mas é tudo" diz ele.

    Com a nova mostra, o memorial espera ampliar seus projetos educacionais. Hoje o prédio instalado no nº 160 da rua da Graça recebe alunos de escolas particulares e públicas a partir do 9º ano do ensino fundamental.

    Além do desconhecimento, há aqueles que questionam a narrativa judaica das atrocidades sofridas durante a Segunda Guerra (1939-45).

    Myriam Nekrycz, 85, nasceu na Polônia e tinha nove anos quando a guerra chegou a sua cidade natal: "Não entendo como as pessoas podem dizer que isso [o Holocausto] não aconteceu, quando ainda existem
    sobreviventes vivos como eu", diz.

    Ao lado do marido, Henry Nekrycz (1924-2015), ela dedicou grande parte de sua vida a contar sua história como sobrevivente do Holocausto.

    Para Reuven, os negacionistas do Holocausto na Europa hoje compõem um grupo muito pequeno, mas podem ser "muito barulhentos".

    Um dos focos da mostra, financiada com recursos da comunidade judaica brasileira e com auxílio de leis de incentivo, é fazer a distinção entre genocídio e Holocausto. "Genocídios tivemos vários, Holocausto, só um" diz Reuven.

    "Não é só a quantidade de vítimas [que é diferente], mas a forma como foi feito. Havia um mecanismo de extermínio criado pelo 3º reich", diz, aludindo à sistematização dos assassinatos em massa.

    BRASILEIROS

    Na mostra, há um espaço dedicado aos dois brasileiros que receberam o título de Justos entre as Nações, concedido a não judeus pelo museu Yad Vashem, de Israel, àqueles que ajudaram de forma substancial os judeus na Segunda Guerra sem expectativa de retorno ou ganho financeiro.

    Luiz Martins de Sousa Dantas, embaixador do Brasil em Paris de 1922 a 1944, desafiou a política oficial do governo de Getúlio Vargas —que incluía os judeus na categoria de "indesejáveis" e criava obstáculos burocráticos à sua vinda- e concedeu vistos a várias minorias perseguidas por Hitler. Estima-se que ele tenha salvo 800 pessoas, mais da metade delas, judia.

    Já Aracy Guimarães Rosa, segunda mulher do escritor e diplomata Guimarães Rosa, chegou a ser chamada de "o anjo de Hamburgo".

    Foi lá que, trabalhando no consulado brasileiro, ela omitiu a origem judaica de solicitantes de vistos, garantindo assim que eles pudessem entrar legalmente no Brasil.

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