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    Governo Trump

    Brasileira diz que sua eleição nos EUA é resposta à 'política racista' de Trump

    SILAS MARTÍ
    DE NOVA YORK

    10/11/2017 02h00

    Menos de 600 votos fizeram história. Margareth Shepard, a primeira brasileira a conquistar um cargo eletivo nos Estados Unidos, enxerga sua campanha vitoriosa por uma das 11 cadeiras de vereador em Framingham, nos arredores de Boston, como parte da onda anti-Trump que varre os subúrbios do país.

    "Minha vitória nesse momento é a resposta da cidade a essa política racista que marginaliza as minorias e criminaliza os imigrantes", diz Shepard. "Isso está conectado a essa dinâmica nacional."

    Reprodução/Facebook
    Margareth Shepard, primeira brasileira a ser eleita vereadora nos EUA, em foto de campanha
    Margareth Shepard, primeira brasileira a ser eleita vereadora nos EUA, em foto de campanha

    Ela fala do repúdio às políticas do presidente Donald Trump que se manifestou nas urnas nas eleições desta semana no país, entregando os governos de Nova Jersey e Virgínia à oposição com apoio decisivo de quem vive nas bordas das grandes cidades.

    Muitos deles são como os 6.000 moradores de seu distrito num subúrbio de 68 mil pessoas, grande parte delas imigrantes vindos do Brasil.

    Shepard era professora no interior de Goiás quando o governo de Fernando Collor de Mello caiu em desgraça.

    Em 1992, ela largou o trabalho e a atuação sindical, primeiro passo de sua dedicação à política, para tentar a sorte nos Estados Unidos, onde moravam suas primas.

    "Eu vim para me alienar um pouco da política, descansar a cabeça", lembra. "Acabei ficando e durante muitos anos não tive contato nem com o processo político daqui nem com o do Brasil."

    Em Framingham, onde estão 15 mil dos 350 mil brasileiros de Massachusetts, Shepard trabalhou como babá e faxineira até se casar com um americano —de quem depois se divorciou— e abrir uma empresa de serviços de limpeza.

    EMPREENDEDORES

    Sua campanha à Câmara de Vereadores, aliás, foi voltada a imigrantes que, como ela, abriram seus negócios em solo americano —nas contas de Shepard, 80% do comércio em seu distrito eleitoral pertence aos brasileiros.

    Foi por causa deles também que ela começou sua luta política em Framingham.

    Há cinco anos, Shepard entrou na briga pela aprovação de uma lei que autorizaria a emissão de carteiras de motorista a todos os imigrantes, mesmo aqueles em situação irregular —com isso, metade da população brasileira em Massachusetts seria beneficiada.

    O movimento, que levou 500 militantes à sede do governo em Boston para assistir de perto à votação, fracassou. Mas Shepard, àquela altura já filiada ao Partido Democrata, não desistiu de continuar sua luta.

    Enquanto não entrava de fato para o governo, ela fez campanha para a correligionária Hillary Clinton no ano passado e agora é tesoureira do diretório local do partido na cidadezinha.

    Ao lado da família (além dos dois filhos, seus pais também foram viver em Framingham), ela trabalha num centro comunitário que presta serviços a imigrantes com o apoio de grupos católicos.

    No espectro político, aliás, Shepard se distancia dos evangélicos, outra grande comunidade de brasileiros em Boston e seus subúrbios, que organizou há algumas semanas a visita ao Estado de Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência.

    "Não concordo com a política que esse senhor representa", afirma. "Repudio quem discrimina mulheres."

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