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    Enviada de Trump assume crédito por corte de verbas na ONU

    RICK GLADSTONE
    DO "THE NEW YORK TIMES"

    26/12/2017 19h44

    Brendan McDermid/Reuters
    United States ambassador to the United Nations Nikki Haley addresses the U.N. Security Council meeting on the situation in the Middle East, including the Palestine, at the United Nations Headquarters in New York, U.S., December 8, 2017. REUTERS/Brendan McDermid ORG XMIT: NYK509
    A embaixadora americana nas Nações Unidas, Nikki Hailey

    Pelo menos quatro vezes na última semana, o governo Trump ligou seu apoio financeiro à Organização das Nações Unidas à aceitação de exigências feitas por Washington.

    Primeiro, o presidente Donald Trump e sua embaixadora na ONU, Nikki Haley, ficaram furiosos porque todos os países membros do Conselho de Segurança da organização, exceto os EUA, se opuseram ao reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e sua decisão de colocar a embaixada americana lá.

    Depois Trump desafiou a Assembleia Geral a seguir o exemplo do Conselho de Segurança. "Que eles votem contra nós", disse o presidente. "Vamos economizar muito."

    Quando a Assembleia Geral votou contra os americanos por 128 a 9, Haley disse que tomaria nota dos que discordaram e se lembraria deles na próxima vez em que pedirem ajuda financeira aos EUA.

    A votação contra os EUA, disse ela, fará diferença sobre "como vemos os países que nos desrespeitam na ONU".

    Então no domingo (24), quando os membros da ONU chegaram a um acordo sobre o orçamento de US$ 5,4 bilhões para 2018-19, Haley emitiu um comunicado enfatizando o papel dos EUA para se alcançar mais de US$ 285 milhões em cortes, juntamente com sugestões de que haverá mais reduções.

    "Não vamos mais deixar que a generosidade do povo americano seja objeto de vantagem ou que continue irrestrita", disse Haley. Em futuras negociações, afirmou ela, "vocês podem ter certeza de que continuaremos procurando maneiras de aumentar a eficiência da ONU enquanto protegemos nossos interesses".

    Certamente não foi a primeira vez que Haley sugeriu usar a influência financeira dos EUA para conseguir o que quer na ONU. Quando ela assumiu o cargo, em janeiro, advertiu: "Vocês verão uma mudança em nosso modo de negociar".

    E o secretário-geral António Guterres disse que algumas partes da organização precisam se tornar mais eficientes.

    Mas a ligação entre a generosidade dos EUA e as simpatias políticas na ONU foi um tema recorrente de Trump, que certa vez descreveu a organização de 72 anos, criada depois da Segunda Guerra Mundial, como um triste clube social que tinha desperdiçado seu potencial.

    Muitos seguidores da base de Trump consideram a organização suspeitamente antiamericana. Quando o corte no orçamento de US$ 285 milhões foi noticiado na segunda-feira (25) pela Breitbart News, um grupo de mídia que apoia Trump, as reações dos leitores foram ferventes, com alguns afirmando que toda a contribuição dos EUA deveria ser rescindida.

    Os críticos da abordagem de Trump à ONU afirmam que a coerção americana pode funcionar contra os EUA, ao subverter o respeito ao protocolo acordado de contribuições financeiras. Eles dizem que Trump não deve esperar que outros sigam sua liderança só porque os EUA têm maior influência monetária.

    "A marca deste governo não é prestar atenção nos benefícios que os EUA realmente obtêm em um sistema regrado com instituições internacionais", disse Stewart Patrick, bolsista sênior no Conselho de Relações Exteriores, depois da votação sobre Jerusalém na última quinta-feira (21). "Isto não é algo que possamos tratar de maneira puramente transacional."

    Sob uma fórmula ligada ao tamanho econômico e outras medições estabelecidas em um artigo da Carta da ONU, os EUA são responsáveis por 22% do orçamento operacional da organização, a maior contribuição. O país pagou cerca de US$ 1,2 bilhão do orçamento de US$ 5,4 bilhões em 2016-17.

    Os EUA também são o maior contribuinte financeiro isolado, com 28,5%, de um orçamento separado para operações de manutenção da paz da ONU, que totaliza US$ 6,8 bilhões no orçamento de 2017-18 finalizado em junho.

    Na época, como hoje, Haley levou o crédito por cortes nesse orçamento que, segundo ela, superaram US$ 500 milhões. "Estamos apenas começando", disse ela na época.

    Segundo a Missão dos EUA, as reduções no orçamento alcançadas no domingo incluíram cortes generalizados em gastos de viagens, consultores e outras despesas operacionais. Também há regras mais rígidas sobre indenização e novas maneiras de maximizar o uso da sede da ONU em Nova York para reduzir a necessidade de espaço alugado dispendioso.

    Grupos de direitos humanos contatados na segunda-feira não deram suas opiniões sobre o novo orçamento, dizendo que precisavam ver mais detalhes de como isso poderá afetar a capacidade da ONU de monitorar os abusos ou reagir a emergências —partes importantes de seu trabalho.

    Elas também não discordaram necessariamente da avaliação dos cortes feita por Haley. Mas alguns temeram o efeito potencial de futuras reduções.

    "Não há nada errado em aumentar a eficiência e eliminar desperdícios na ONU", disse Louis Charbonneau, diretor da ONU na Human Rights Watch. "Mas é crucial que não reduzamos a capacidade da organização de monitorar, investigar e denunciar abusos aos direitos humanos ou sua capacidade de salvar a vida de homens, mulheres e crianças em todo o mundo."

    Tradução Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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