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    Primavera de Praga, iniciada há 50 anos, ainda inspira resistência pacífica

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    05/01/2018 02h00

    Quando foi eleito primeiro-secretário do Partido Comunista da Tchecoslováquia há 50 anos, em 5 de janeiro de 1968, Alexander Dubcek representava uma esperança de mudança, propondo um "socialismo com rosto humano".

    A Primavera de Praga, como aqueles meses passaram a ser conhecidos, murchou rapidamente com a chegada dos tanques soviéticos e com o ostracismo de Dubcek, mas ainda persiste como um exemplo de movimento social.

    Libor Hajsky - 21.ago.1968/CTK/Associated Press
    Jovens seguram bandeiras da então Tchecoslováquia durante levante da Primavera de Praga
    Jovens seguram bandeiras da então Tchecoslováquia durante levante da Primavera de Praga

    Em retrospecto, a repressão à reforma tcheca foi um dos sinais da falência do modelo soviético. A ideia de resistência não violenta, por sua vez, inspirou as revoluções de duas décadas depois, levando ao fim da União Soviética.

    Nascido em 27 de novembro de 1921 em Uhrovec, o eslovaco Dubcek foi educado no atual Quirguistão, que era então um território soviético. Ele participou da resistência à ocupação nazista durante a Segunda Guerra (1939-1945) e rapidamente ganhou destaque no Partido Comunista.

    Dubcek tinha 47 anos quando foi eleito primeiro-secretário da sigla, já em meio ao debate sobre a liberalização do país, que vivia uma grave estagnação econômica. Ele era uma forte promessa por ser ao mesmo tempo um veterano e um reformador.

    A Tchecoslováquia (hoje dividida em República Tcheca e Eslováquia) era governada pelo Partido Comunista, que havia nacionalizado a economia de acordo com linhas soviéticas —um projeto acompanhado de magras liberdades individuais.

    Com o aval do ex-presidente Ludvík Svoboda, Dubcek iniciou um programa de liberalização, engatilhando o movimento popular da Primavera de Praga.

    O projeto incluía um mercado mais aberto, liberdade de expressão mais ampla e um governo mais democrático, duas décadas depois da chegada do Partido Comunista ao poder em 1948.

    Foram oito meses de Primavera, durante os quais o país viveu um intenso otimismo, refletido na obra "A Insustentável Leveza do Ser", de Milan Kundera. "Depois de 20 anos, era possível respirar e falar livremente", disse em 1998 o ex-presidente Václav Havel (1936-2011).

    O sonho definhou, no entanto, quando a União Soviética se deu conta do potencial de que a Primavera de Praga crescesse até se tornar uma revolução. Leonid Brejnev, líder soviético àquela época, decidiu agir.

    O Pacto de Varsóvia (equivalente do bloco comunista à Otan, a aliança militar ocidental) enviou 500 mil tropas e 6.000 tanques ao país, enfrentando a resistência pacífica organizada por Dubcek.

    Acuado, ele foi forçado a assinar um termo em que gradualmente revertia suas reformas —algo que anunciou à população em um emocionado discurso. Um ano depois, Dubcek foi substituído no cargo de primeiro-secretário do partido pelo pró-soviético Gustav Husak. Mais tarde, foi expulso da sigla.

    Foram anos de ostracismo e de crítica vinda de sua própria base, que lhe acusava de ter se dobrado muito facilmente à pressão de Moscou e abandonado a reforma que daria o tal "rosto humano" ao socialismo.

    Em 1989, com o fim do comando comunista, Dubcek foi eleito líder da Assembleia Federal, o que ele viu à época como uma continuação de sua Primavera. A transição, afinal, foi em parte possível a partir de seu exemplo de resistência pacífica.

    Dubcek morreu em 7 de novembro de 1992 devido a um acidente de carro. Dois meses depois, a Tchecoslováquia foi dividida —ele era cotado para presidir a Eslováquia.

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