A revogação do aumento das tarifas de transportes em São Paulo e no Rio é uma vitória indiscutível do Movimento Passe Livre. Já os prefeitos Fernando Haddad (PT) e Eduardo Paes (PMDB), bem como os governadores Geraldo Alckmin (PSDB) e Sérgio Cabral (PMDB), saem atônitos das manifestações que os encurralaram.
Menos mal que tenham demonstrado realismo. O movimento adquiriu tamanha repercussão no tecido social que ceder já se tornava imperativo de bom-senso. Agora lhes cabe enunciar de onde sairão as verbas para pagar a conta.
Não é fácil aquilatar, contudo, como o episódio reverberará no panorama partidário e eleitoral. Da revolta com a qualidade da saúde e da educação à crítica aos gastos com a Copa do Mundo, várias insatisfações vieram à tona durante os protestos.
No momento, nenhuma das forças políticas majoritárias no país pode colher benefícios do que acontece. Ao contrário: acumulam derrotas, sem exceção.
Haddad tornou-se, naturalmente, um alvo preferencial do movimento após anunciar decisão que, pela lógica administrativa, nada mais era do que um ato de rotina, apesar de seu caráter impopular.
A prefeitura confiou, e tinha motivos para isso, na possibilidade de que os protestos pudessem esgotar-se sem maior esforço de negociação. Pressionado, o prefeito paulistano terminou obrigado a rever uma medida que apresentava como positiva --o reajuste revogado em São Paulo, afinal, ficara abaixo da inflação.
O enfraquecimento de seu cacife político encontra paralelo no campo do governo estadual. Em tese representando uma força oposta ao PT de Haddad, o tucano Alckmin paga um duplo preço.
De um lado, a truculência policial verificada na quinta-feira passada despertou largos contingentes da classe média para o movimento. De outro, novos e repetidos atos de vandalismo se registraram. Entre o excesso e a omissão policial, o comando do Estado parecia oscilar, incapaz de definir-se quanto à alternativa de menor custo eleitoral.
Ironicamente, para uma administração que conta com índices de popularidade ainda altos, embora em queda, também o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) se viu atingido por um sentimento de insatisfação difuso, expressado nas maiores cidades do país.
PT e PSDB se veem lado a lado, como faces da mesma moeda, diante de uma sensação de inconformismo geral. Nenhuma agremiação política parece dar conta, por enquanto, de fenômeno tão multifacetado e amplo.
Até o Congresso dá sinais de incômodo com a revolta. Cogita acelerar a votação de projeto para desonerar os transportes urbanos. Políticos tradicionais sentem a exigência de reinventar-se, mas para tanto as manifestações ainda não parecem ter força bastante.
É mais fácil parar metrópoles, como São Paulo e Rio, do que tirar do atraso a política nacional.