Há mais de mil anos, membros do clã Fujiwara --a poderosa família que governou o Japão imperial durante seu período áureo, o "Heian", entre os anos 794 e 1185-- se reuniam periodicamente para assistir a espetáculos de... stand-up comedy.
Ou, como chamam os japoneses, "manzai", gênero humorístico que em muito lembra a atual comédia em pé. Parte da história do gênero está documentada no livro "Beat Takeshi Kitano", ainda não traduzido para o português, do cineasta e ator japonês Takeshi Kitano.
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Famoso até hoje no Japão, o manzai, diferentemente do stand-up ocidental, conta com dois comediantes dividindo o palco; os papéis costumam ser predeterminados: um dos comediantes faz as vezes do "tsukkomi", mais sério e sisudo, enquanto o outro é o "boke", descontraído e gaiato. Uma espécie de Dedé e Didi orientais.
Como no stand-up, as piadas geralmente têm duplo sentido e tratam de mal-entendidos do cotidiano.
Wikimedia Commons | ||
Gravura de 1825 mostra dois atores de manzai se apresentando durante o ano novo japonês |
Outro tipo de stand-up milenar é o xiagsheng chinês. De acordo com o "The Performing Arts in Contemporary China", livro não traduzido para o português do pesquisador Colin Mackerras, o termo significa algo como "olhar para o outro e falar", o que traduz bem o espírito desse estilo.
Também com dois comediantes no palco, as falas costumam ser rápidas, provocativas e carregadas de ambiguidade. Segundo Mackerras, o xiagsheng se popularizou durante a dinastia Ming, entre 1368 e 1644, quando o país passava por período de relativa tranquilidade política.
Hoje, escreve o pesquisador, apesar do cerco que o Partido Comunista da China e seus estimados 70 milhões de militantes impõem a seus opositores, o xiagsheng é uma das poucas plataformas na qual as críticas ao governo são aceitáveis. Afinal, é só uma piada...