Muito se tem falado nos meios de comunicação sobre a refinaria de Pasadena, no Texas, adquirida pela Petrobras em 2006. A empresa ficou inicialmente com 50% das ações e depois foi levada a comprar os restantes 50%. Entretanto, há algo que falta esclarecer sobre este assunto do ponto de vista da lógica.
Foi divulgado que a refinaria pertencia à empresa Astra, que a teria adquirido um ano antes por US$ 42,5 milhões. A Petrobras pagou à Astra US$ 554 milhões de dólares por 100% das ações da refinaria e mais US$ 341 milhões pela trading associada a ela, ou seja, um total de US$ 895 milhões. A este valor se adicionaram US$ 354 milhões de dólares da demanda judicial que levou à compra dos 50% das ações que inicialmente ficaram com a Astra. Esta apelou para a justiça norte-americana e a Petrobras perdeu. No total, gastou US$1,244 bilhão.
A diferença foi grande, mas dados da Petrobras negam que a refinaria tenha saído por apenas US$ 42,5 milhão para a Astra. Esta pagou US$ 248 milhões pela refinaria e investiu US$ 112 milhões na sua reforma, totalizando US$ 360 milhões, ao invés de apenas US$ 42,5 milhões. Ainda assim a diferença é grande. Mas além da refinaria e da trading foram comprados um "grande parque de armazenamento, estoques de óleo nos tanques e contratos de comercialização de derivados de petróleo com clientes, bem como a infraestrutura de escoamento" envolvendo também acesso ao mercado norte-americano.
No governo Fernando Henrique foi traçada uma estratégia de internacionalização da empresa, mantida pelo governo Lula com algumas alterações, como a construção de plataformas offshore na indústria nacional e maior investimento em exploração, associada à descoberta do pré-sal.
Para clarear o processo de decisão da Petrobras sobre a compra de Pasadena, há ainda uma conta a ser feita: G = V x (A - B - C). Traduzindo, V é o volume de óleo brasileiro de Marlim que seria refinado em Pasadena, A é o preço médio estimado dos derivados de petróleo no mercado norte americano, B o preço do petróleo brasileiro exportado de Marlim, com desconto no mercado internacional por ser pesado e ácido, e C representa os custos. G seria o ganho anual da Petrobras com Pasadena.
Os valores aproximados em 2006 eram: preço médio da gasolina nos EUA, US$ 3,0 por galão (3,785 litros) em julho de 2006; preço do óleo de Marlim US$ 45 por barril (42 galões ou 159 litros); volume de óleo processado pela refinaria da Pasadena, 100 mil barris por dia, mas estava previsto nos planos da Petrobras dobrar para 200 mil barris por dia e passar a processar o óleo pesado de Marlim. O custo do refino pode ser tão pequeno quanto 10% do preço do óleo, mas isso varia muito e não inclui a amortização do investimento de US$ 580 milhões para processar o óleo de Marlim. A margem de comercialização é no mínimo 10% e ainda há impostos.
A fórmula dá o ganho potencial presumido pela Petrobras em 2006 para processar em Pasadena o óleo de Marlim e vender os derivados no mercado norte-americano. Portanto, seria bem lucrativo ao invés de vendê-lo no mercado internacional com desconto.
É claro que se trata de um cálculo teórico, com simplificações, e que as estimativas feitas não se concretizaram. A refinaria não sofreu o "upgrade" projetado pela Petrobras para processar óleo pesado, pois a Astra rompeu com a empresa. Os preços e custos de 2006 não se mantiveram, a margem do refino caiu, veio a crise econômica mundial de 2008 e ademais os EUA aumentaram a sua produção de petróleo não convencional.
LUIZ PINGUELLI ROSA, 72, é professor da Coppe/UFRJ e membro da Academia Brasileira de Ciência
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