O acordo entre a Ancine (Agência Nacional do Cinema) e as empresas exibidoras cinematográficas, regulando o número máximo de cópias de um mesmo filme por complexo de salas, é o primeiro passo em busca do equilíbrio de programação favorável à competição, mas é insuficiente para a promoção da diversidade.
É certo que o modelo de regulação não vai contra os grandes lançamentos, já que o mesmo filme que entrou em 1.300 posições nas novas regras teria 1.100 telas à disposição. (Não fizemos ainda um cálculo para saber o impacto que tal mudança ocasionaria em termos de renda.)
O que também é certo é o grande percentual de salas ocupadas por um mesmo título. Isso porque trabalhamos sobre uma base de 2.800 telas, número total aproximado de salas de cinema no Brasil hoje.
O adjetivo grande só pode ser usado porque nosso parque exibidor é pequeno. E aí reside nosso problema: crescer a base de salas. A regulação deverá, em tese, melhorar a renda do mercado exibidor, pois, caso contrário, ela jogaria contra o crescimento das salas e, em consequência, contra a solução do problema. O acompanhamento neste ano nos mostrará essas tendências.
Por outro lado, o modelo concentrador de lançamento busca arrecadar rapidamente e fugir do estrago que a pirataria provoca na vida de um filme. Ora, se o novo modelo de lançamento provoca maior tempo de permanência em cartaz do filme, mais exposto ele ficará à concorrência desleal da pirataria.
Hoje a pirataria não é restrita aos grandes filmes comerciais e afeta toda a cadeia da exibição. O acordo provoca necessidade de reforço nas políticas antipirataria.
Outra disposição que é hoje o espantalho na cabeça do exibidor diz respeito às chamadas janelas (tempo regulado de exploração do filme durante o qual ele não pode aparecer em outro meio: vídeo, TV fechada, TV aberta etc). A medida que faz o lançamento se alongar no tempo tem que vir acompanhada de reforço na manutenção de regras claras quanto à janela desse filme.
Finalmente, se o acordo é o primeiro passo para melhorar a concorrência entre os filmes de maior porte comercial, é certo que ele não resolve por si, como já se disse, a questão da diversidade, pois, num primeiro momento, ele abre espaço para os iguais.
Há uma vontade, principalmente nos grandes centros urbanos, de acesso dos consumidores a uma gama mais variada de filmes. Mesmo os brasileiros de menor porte que não conseguem exposição.
Para isso faz falta a existência de programas de incentivo tanto ao filme como aos distribuidores e exibidores na programação diferenciada. Basta lembrar que filmes brasileiros que fizeram sua carreira país afora com uma sessão diária não tiveram essa sessão computada na cota de tela.
A digitalização do parque exibidor coloca novos dispositivos para incrementar a programação e forçará distribuidor/exibidor a atender os anseios dos consumidores, fato que já ocorre em eventos esportivos, balé, ópera, reprises e em alguns documentários.
O incentivo nessa área será para um número muito maior de agentes e de títulos, tornando mais isonômica a atenção das políticas públicas em face de todos os segmentos da indústria cinematográfica.
Há que se ressaltar na condução da Ancine a busca da participação democrática dos variados agentes do mercado. Existe a previsão de uma comissão de acompanhamento da nova medida que, no fundo, busca o melhor atendimento ao consumidor, objetivo de todas as empresas envolvidas na negociação.
ADHEMAR OLIVEIRA é diretor de programação do Grupo Espaço de Cinema
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