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    EDITORIAL

    Acordo de Paris

    14/12/2015 02h00

    O dia 12 de dezembro de 2015 pode ficar na história como a data em que as nações do mundo tomaram a decisão política mais abrangente de todos os tempos: trocar a fonte de energia que propeliu o fantástico crescimento econômico dos séculos 19 e 20. Ou não.

    O Acordo de Paris, como se batizou o documento adotado na 21ª conferência do clima (COP21), emite um claro sinal para que governos, empresas e cidadãos abandonem sua predileção desmedida por carvão, petróleo e gás natural. Eles são as principais fontes de gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono, que se acumulam na atmosfera e a aquecem globalmente.

    Se esse sinal bastará para um desvio de rota que encerre o domínio dos combustíveis fósseis, contudo –eis aí algo difícil de prever. Há pelo menos duas trajetórias plausíveis conflitantes com o objetivo declarado por 195 países em Paris: impedir que o aquecimento global ultrapasse 2ºC ou, preferencialmente, 1,5ºC.

    Na primeira delas, aprofunda-se o processo já iniciado de transição energética, dos fósseis para fontes renováveis, mas não em tempo de manter a atmosfera na rota almejada. Já emitimos mais da metade do carbono que pode ser queimado antes de aquele limiar seguro de temperatura ser superado.

    O CO2 lançado perdura décadas no ar, de modo que a perturbação do clima ora experimentada na Terra em verdade se produziu com o desenvolvimento econômico do passado –de forma predominante nos países ricos. A maior parte dos entraves que arrastaram as negociações climáticas já por um quarto de século decorre da impossibilidade –prática e ética– de exigir que os pobres se desviem desse rumo.

    No segundo e pior cenário, os combustíveis fósseis seguem reinando. Os preços do petróleo observam uma baixa continuada, derrubados pelo aumento de produção capitaneado pela Arábia Saudita.

    Enquanto o presidente Barack Obama determinava a guinada na política americana habitual de obstruir as negociações, a economia de seu país produzia a contraditória revolução do gás e do óleo de folhelho (ou xisto). O governo brasileiro se perfilou como hábil intermediário entre ricos e pobres em Paris, mas ainda aposta fundo no pré-sal.

    Acordos políticos como o de Paris se esforçam por pisar com força no freio, mas os governos que os negociam mantêm o pé no acelerador. Se não adotarem com mais celeridade e afinco, no plano doméstico, políticas capazes de embutir no preço dos combustíveis fósseis o custo ambiental global de sua queima, o limite de velocidade do aquecimento será ultrapassado.

    Por isso se diz, tantas vezes, que Paris é só o começo. Quase todo o esforço ainda resta por fazer.


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