• Opinião

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    Soraya S. Smaili

    São Paulo quer o seu hospital

    03/07/2017 02h00

    O Hospital São Paulo tem uma trajetória fantástica, assim como a história deste Estado. Nascido logo após a criação da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), tornou-se o primeiro hospital universitário do país, mesclando de forma indissociável ensino e pesquisa.

    Estes eram tão intrínsecos à sua missão que, já no início da década de 1940, pesquisadores e médicos visionários realizavam pesquisas experimentais ao lado das clínicas.

    Décadas mais tarde, essa estratégia ganhou o nome sofisticado de Medicina Translacional. Focados nas atividades de ensino, criaram na década de 1950 o primeiro curso biomédico do país. Em seguida, vieram os programas de residência médica, hoje um dos maiores do Brasil.

    Há particularidades na história de 80 anos do Hospital São Paulo. Em 1956, quando a Escola Paulista de Medicina foi federalizada, o mesmo não ocorreu com o hospital, que continuou universitário, mas de propriedade privada.

    Ele continuou crescendo e atendendo cada vez mais pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sempre aliando as descobertas científicas em benefício de seus pacientes.

    A Escola Paulista de Medicina também cresceu, transformou-se em universidade (Unifesp), e o HSP passou a hospital universitário de fato, reconhecido pelo Ministério da Educação.

    Em 80 anos, realizou pesquisas e formou inúmeros profissionais que buscaram suas especializações ou pós-graduações, quer nos 98 programas de residência médica, quer nos 39 programas de mestrado e doutorado.
    Em uma passada pelas escolas médicas e cursos de saúde do país, é possível encontrar diversos professores, médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos e biomédicos oriundos da Unifesp.

    Para completar, a partir dos anos 1990, com a lei do SUS e a tardia implantação na cidade de São Paulo, o HSP aceitou o desafio de atender uma área de cobertura que hoje corresponde a 5,8 milhões de habitantes, com 130 ambulatórios.

    Quanto custa um hospital com esse patrimônio humano? Sua manutenção depende de recursos provenientes do Ministério da Saúde e do governo do Estado, além de verbas específicas para hospitais universitários federais, advindas do Programa Nacional de Restruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf).

    Em 2017, o Hospital São Paulo fez um pleito para reajustar o contrato com o SUS, o que não foi concedido e, para sua surpresa de todos, teve o seu recurso Rehuf suspenso.

    Alegações técnicas sobre a natureza jurídica se tornaram mais importantes do que o atendimento à população mais carente e a formação de estudantes e residentes.

    O pleito inicial de R$ 1,5 milhão por mês no contrato SUS e a continuidade do Rehuf, que seria de R$ 10,6 milhões para o semestre, teriam possibilitado o atendimento adicional de 41 mil pacientes, cerca de 1.000 cirurgias eletivas e o preenchimento de pelo menos 600 leitos dos 750 existentes.

    Consultas teriam sido feitas ao custo de R$ 50; cirurgias de alta complexidade, de R$ 1.000.

    Residentes continuariam sua formação de alta qualidade e nossos professores produziriam ainda mais pesquisas.

    São Paulo quer seu hospital, o país precisa deste local estratégico, sob pena de várias décadas de dedicação e recursos ficarem em risco.

    Questões técnicas podem e devem ser resolvidas rapidamente, adequações de gestão ou jurídicas podem ser obtidas com soluções conjuntas, e não com imposições. Estudantes, professores e técnicos querem o seu hospital.

    A população de São Paulo não pode esperar. O Hospital São Paulo é um bem público, está muito vivo e não quer parar.

    SORAYA S. SMAILI, doutora em farmacologia pela Unifesp, é reitora da mesma instituição

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