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    LÉO COUTINHO

    Centro avante

    04/11/2017 08h00

    Ricardo Stuckert/Instituto Lula - Diego Padgurschi/Marcus Leoni/Ricardo Borges/Folhapress -
    Lula, Ciro Gomes, João Doria e Jair Bolsonaro
    Lula, Ciro Gomes, João Doria e Jair Bolsonaro, possíveis candidatos à Presidência em 2018

    Trocar ideias com o Eduardo Jorge (PV) é um privilégio do qual eu gozo. E faço questão de compartilhar.

    Na semana passada recebi uma mensagem dele. Queria conversar. Respondi que era só dizer quando e onde. Eu me adaptaria. Ontem nos encontramos.

    A prosa começou com ele manifestando, com a suavidade característica, uma reprovação à minha desfiliação do PSDB. Ainda que compreenda meus motivos, sinalizou que o momento era de resistir e lutar por uma agenda nacional de centro para 2018.

    Expliquei que não via mais por onde ajudar por dentro. Que o partido não representa mais o que eu acredito. E que, como ninguém acredita em imparcialidade, desvinculado dos quadros tucanos talvez eu tenha condições de opinar de forma mais abrangente.

    O receio do Eduardo vem das últimas pesquisas, consolidando Lula e Bolsonaro como favoritos para um segundo-turno em 2018. Sentimento que, quero acreditar, é da maioria da população.

    Porém, essa maioria não enxerga um nome para chamar de seu, o que dá margem para uma revoada de balões de ensaio político que, a história prova, como os balões juninos sempre acabam em incêndio. Não se pode esquecer 1989. Elio Gaspari encerrou o assunto nesta Folha.

    Perguntei se ele seria candidato. E ouvi uma lição de grandeza de estadista. Eduardo Jorge não tem medo de eleição e muito menos de defender sua agenda. Mas fica apavorado com a possibilidade de fragmentar o centro impedindo que um candidato mais forte chegue ao segundo turno por falta de 1%.

    A quem imagine que 1% dos votos podem ser desprezados ele mostra um dado da corrida presidencial estadunidense de 2016. Três estados tradicionalmente democratas definiram o colégio eleitoral que elegeu Donald Trump: Michigan, Pensilvânia e Wisconsin.

    Em Michigan o republicano Trump venceu a democrata Clinton por 0,23% (47,59% X 47,36%). E a candidata Jill Stein (Partido Verde), que fez campanha atacando Hillary Clinton, teve 1,07%. Na Pensilvânia a diferença foi de 0,73% (48,58% X 47,85%). Stein teve 0,82%. No Wisconsin faltou 0,77% (47,78% X 47,01%), que o 1,06% de Stein teria invertido.

    Quiçá arrependida, Stein pediu recontagem de votos nesses três Estados. Arrecadou mais de US$ 4 milhões para pagar a mão de obra. Que deu em nada.

    Vale lembrar que a agenda Obama para o meio-ambiente não era revolucionária, mas era ambiciosa e incluía uma série de avanços, com destaque para o Plano de Energia Limpa, que previa, pela primeira vez, reduzir em um terço as emissões de gases causadores do efeito estufa entre 2005 e 2030.

    Trump revogou o plano e incentiva a retomada de minas e usinas de carvão, que representam quase 150 anos de retrocesso. Fatura que é do mundo inteiro.

    O que pode ser feito no Brasil para evitar semelhante catástrofe?

    No centro, vemos a bancada federal do PSDB quase chegando aos sopapos numa reunião, com destaque para dois mineiros defensores de Aécio Neves, o que nos dá uma dimensão do problema. Tancredo Neves dizia: "Se é mineiro, não é radical; se é radical, não é mineiro."

    Entre os tucanos presidenciáveis, João Doria acelera contra o padrinho Geraldo Alckmin, esparramando incômodo e constrangimento —que, somados a problemas administrativos, abalaram o cerne da própria gestão, derivando no rompimento com o vice Bruno Covas.

    Na Rede, o "nanico" que ficou em terceiro lugar na última eleição presidencial, crise financeira, relatos de salários atrasados, nenhuma estrutura de comunicação, 15 escassos segundos no tempo de televisão e, principalmente, Marina Silva num estaleiro incerto.

    Pra não dizer que não falei das flores, PPS, DEM e PSD flertam com o "novo", PSB ameaça deputados com expulsão e consequente perda de mandato.

    Sob as cinzas do PMDB, nem sinal do manda brasa. E a ala moderada do PT, obediente à fidelidade pregada por José Dirceu, como um cadela insiste em defender o dono.

    Sem o abandono do personalismo, não haverá solução. O mais próximo que Sassá Mutema chegou da realidade foi na hipótese de o ator Lima Duarte concorrer a vice de Mario Covas naquele 1989 lembrado pelo já citado Elio Gaspari.

    O pacto por uma agenda de centro, em que todos devem perder um pouco para a vitória coletiva, é urgente. Deve ser debatido e subscrito por quem tem juízo. E a agenda, liderada por quem tiver credibilidade e as melhores ferramentas de comunicação.

    LÉO COUTINHO é escritor e jornalista

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