Um ano após a retirada total de proprietários rurais da terra indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima, a produção de arroz no Estado retrocedeu ao nível de oito anos atrás, de acordo com a Conab (órgão ligado ao Ministério da Agricultura).
Com o menor PIB do país, o Estado tinha no cultivo de arroz uma das três principais atividades econômicas privadas.
Ricardo Stuckert/PR |
Em reserva, Lula defende crescimento de Roraima mas sem tirar direito dos índios |
Um grupo de arrozeiros que permanecia dentro da área indígena liderou protestos contra a demarcação contínua da terra e foi defendido pelo governo estadual no Supremo Tribunal Federal. A Justiça, porém, determinou a retirada completa --que completou um ano no começo do mês-- dos não índios da região.
Além da queda na produção de arroz, que passou de 127 mil toneladas na safra 2007/08 para 82 mil na atual, a terra indígena também convive com garimpos ilegais mantidos por índios e não índios.
Sem os arrozais, os indígenas sobrevivem com lavouras de subsistência, criação de gado e com programas sociais, de acordo com o CIR (Conselho Indígena de Roraima).
Os arrozeiros dizem que a área plantada encolheu pela metade e que as lavouras dentro da terra foram abandonadas. Como alternativa, os fazendeiros passaram a arrendar terrenos em outras regiões do Estado e reclamam que isso encareceu a produção.
O líder da categoria, Nelson Itikawa, diz que os não índios que trabalhavam nos arrozais estão sobrevivendo com bicos.
Para o governo de Roraima, a perda econômica foi "um baque". "Lá a gente tinha produtividade muito alta. Outras áreas, até chegarem a isso, vão demorar", diz o secretário do Planejamento, Haroldo Amoras.
Como forma de compensar Roraima, a União transferiu, em 2009, a posse de 6 milhões de hectares para o Estado.
Paulo César Quartiero, famoso por liderar protestos contra a terra indígena, diz que Roraima se tornou um Estado "sem produção, que vive de contracheque de Brasília".
Sem produzir há um ano, o fazendeiro afirma que suas máquinas estão estragando. Ele diz ter demitido quase todos seus 200 funcionários e comprou terras no Pará, onde pretende voltar a plantar arroz.
Garimpos
Em operação em outubro de 2009, a Polícia Federal reprimiu uma série de garimpos ilegais instalados na Raposa. Para o superintendente da PF no Estado, Herbert Gasparini, "fatalmente" os garimpeiros se rearticulam e começam a prática.
De acordo com a polícia, os não índios se "consorciam" com indígenas nas ações.
Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a Raposa/Serra do Sol em comemoração ao Dia do Índio. Na ocasião, disse que o Estado tem "tanta terra ainda sem produzir" e "alguns queriam exatamente a terra" dos índios.
Falou que o governo federal quer que o Estado se desenvolva "sem tirar o direito de o índio viver tal como ele queira". "Os índios estão muito felizes com a demarcação da Raposa."
A Funai (Fundação Nacional do Índio) diz que depositou em juízo as indenizações devidas por benfeitorias construídas por fazendeiros na terra indígena. Mas afirma que Quartiero e Itikawa destruíram as instalações antes de abandonar a área e que, por isso, não têm direito aos benefícios.