O candidato do PMDB ao governo de Minas Gerais, Hélio Costa, afirmou nesta quarta-feira que o tucano Aécio Neves poderia ter sido o candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto se tivesse deixado o PSDB e se filiado ao PMDB ou a outro partido.
Costa disse que chegou a dizer isso ao tucano. Segundo o peemedebista, no entanto, faltou a Aécio coragem e desprendimento político.
"Nós todos em Minas achávamos que ele seria candidato a presidente da República. Eu cheguei a dizer, lá atrás, que se ele tomasse uma decisão ele seria o candidato do presidente Lula. Faltou um pouco de desprendimento político, para não dizer coragem", disse em sabatina realizada pela Folha e pelo UOL.
Em sabatina, Hélio Costa defende equipe dos Correios demitida por Lula
Anastasia critica governo Lula e rejeita Hélio Costa como nome forte para Minas
Para o candidato do PMDB, a possibilidade de Aécio suceder Lula apareceu após a queda do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
"Houve um vácuo, depois das quedas do [José] Dirceu [ex-ministro da Casa Civil] e Palocci. Se ele tivesse se manifestado lá atrás, quem sabe até pela relação de intimidade que tinha com o presidente..."
Bruno Magalhães/Folhapress |
Candidato ao governo de Minas Gerais, Hélio Costa participa de sabatina da Folha e UOL |
Segundo Costa, a avaliação que se fazia, então, era de que se Aécio ficasse no PSDB, não derrotaria o ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB).
"Quem conversava em São Paulo com políticos e empresários não via a possibilidade de o Aécio emplacar a sua candidatura dentro do PSDB com o Serra."
O candidato peemedebista contou também que procurou Aécio para dizer que abdicaria de sua candidatura ao governo de Minas, caso o então governador mineiro saísse candidato a presidente da República.
"Eu teria que me posicionar por um candidato mineiro. Seria impossível para um candidato mineiro ficar contra uma candidatura mineira. Se ele fosse candidato, eu estaria rigorosamente fora do processo político."
Costa disse que sempre foi amigo de Aécio e que a relação de ambos sempre foi "excepcional".
PT
O candidato do PMDB disse estar emocionado com o engajamento do PT em sua campanha. No Estado, o presidente Lula precisou intervir para que o partido apoiasse o peemedebista.
"Estou emocionado com o empenho dos companheiros do PT. Em Minas, política se faz mais com conversas, é mais demorada, a gente tem que tomar um cafezinho para debater o assunto."
Sobre as discussões entre PT e PMDB para a definição de alianças, Costa afirmou que "houve uma disputa" dentro dos partidos e que eles preferiram fazer "a linha de aliança".
O peemedebista também falou sobre o fato de agora andar abraçado com pessoas que antes o criticavam. "O fato de eu trabalhar na Globo e morar nos EUA dava a impressão de que eu era de direita. Com o passar do tempo, o PT foi me conhecendo melhor."
Costa ainda fez elogios ao governo Lula e críticas a gestões tucanas. Ele usou a privatização da Vale para atacar o PSDB.
O peemedebista disse ainda que o governo estadual não explora o turismo devidamente. "Não entendo como o governo se recusou a assinar o PAC das cidades históricas."
ANASTASIA
Questionado sobre as afirmações feitas por seu adversário Antonio Anastasia na disputa de que andava em más companhias --em alusão aos diretores demitidos dos Correios pelo presidente Lula--, Costa deu uma alfinetada no tucano.
"Deus não me deu essa qualidade de falar tão facilmente mal dos meus adversários. Prefiro deixar muito claro que não entendi essa colocação porque a minha companhia mais constante é a da minha família. Minha mulher, meus filhos e a minha turma política. O Lula, a Dilma, o Patrus [Ananias], o Zé Alencar."
O ex-ministro das Comunicações procurou dissociar a imagem de Anastasia da de Aécio.
"O candidato do PSDB não é o Aécio. O Aécio fez coisas extraordinárias em Minas Gerais, nós temos que reconhecer isso. Agora, o candidato [Anastasia] quer passar a imagem de que ele é o Aécio. E ele não é o Aécio."
CORREIOS
Costa defendeu a equipe dos Correios demitida em julho pelo presidente. As indicações foram feitas por ele à época em que era ministro das Comunicações.
Lula seguiu recomendação de Erenice Guerra (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Planejamento), que foram escalados para fazer um raio-X da instituição em junho.
O relatório apontava três problemas: 1) atraso na licitação de 1.429 franquias cujos contratos vencem em novembro e que podem causar um 'apagão postal'; 2) logística falha; 3) demora na realização do concurso público que atraiu mais de 1 milhão de inscritos.
"Falar mal dos Correios é uma coisa de mau brasileiro que não conhece a empresa que ganhou por 7 anos consecutivos o título de empresa de maior credibilidade do país. Está presente em todos os municípios e tem qualificação internacional", disse Costa.
O candidato defendeu o presidente dos Correios e o diretores demitidos.
"O presidente é um funcionário público da Caixa há 25 anos, e os diretores dos correios são funcionários de carreira que eu insistentemente preservei. Foi uma boa gestão, honesta e correta. Quando chegamos, encontramos os Correios saindo de um crise. Eu pegava o clipping de imprensa, todas as páginas citavam a CPI dos Correios. Durante 5 anos trabalhamos para recuperar a imagem de seriedade e honestidade."
LEI POSTAL
Segundo Costa, os problemas enfrentados pelos Correios são decorrentes da antiguidade da lei postal, de 1978.
"Lamentavelmente é muito antiga. Só da o direito de entregar carta. O resto é competição internacional. Ninguém quer entregar uma carta lá no interior do amazonas ou no Vale do Jequitinhonha."
O peemedebista contou que ele e sua equipe procuraram empresas como TAM, Varig e Gol para trabalharem na logística das entregas postais, mas afirmou que nenhuma delas quis por causa dos valores que os Correios podem pagar.
"As empresas antigas, que estão com as coisas caindo aos pedaços, é que aceitam."
LOBBY
Segundo ele, há um lobby muito forte em Brasília pela privatização da empresa, feito pelas multinacionais.
"Eu não sei se tem políticos juntos. Sei que tem muita gente interessada. Os Correios têm uma movimentação de R$ 12 bilhões. Todo mundo que trabalha nesse lobby fala mal dos Correios"
Costa defendeu o sistema de franquias, criado pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, como um "presente a amigos".
"No caso dos franqueados, temos que entender que a empresa, que está lamentavelmente impedida, apresentou um serviço mais moderno através das franquias. Agora, é uma disputa comercial entre as franquias e os próprios correios. O que não se pode é deixar que esse equilíbrio seja prejudicado. Porque aí seria a privatização."
Sobre a acusação feita ontem pelo seu adversário Antonio Anastasia (PSDB) de que o problema não saiu na imprensa mineira, Costa insinuou que a mídia local privilegia o grupo de Aécio.
"Não sou eu que tenho essa primazia. Não sou governo. Sou oposição ao governo estadual. E não tenho nenhum órgão de imprensa que esteja alinhado com o governo federal."
VIOLÊNCIA
Costa criticou a violência em Minas. "Quatro das cinco cidades mais violentas estão em Minas."
Ele disse que, se eleito, irá priorizar a luta contra a impunidade e aposta na tecnologia para melhorar a questão no Estado.
O peemedebista afirmou ainda que rever a lei de responsabilidade fiscal é um dos caminhos para renegociar a dívida do Estado com a União.
O candidato finalizou a sabatina afirmando ser católico praticante e devoto de São Miguel Arcanjo, além de favorável a pesquisas com células-tronco e contra a descriminalização da droga e do aborto.
"Mas sou a favor de que o dependente não seja tratado como criminoso, receba o apoio da sociedade para se tratar."
SABATINA
O evento ocorreu no Royal Golden Hotel, na Savassi, região central de BH. Ontem, a Folha sabatinou o governador de Minas Gerais e candidato à reeleição, Antonio Anastasia.
Segundo o último Datafolha, o governador tem 18% das intenções de voto, contra 44% de Hélio Costa.
Por duas horas, o candidato respondeu a perguntas de quatro entrevistadores e da plateia.
A bancada foi composta por Vinicius Mota, secretário de Redação, Júlio Veríssimo, coordenador da Agência Folha, Valdo Cruz, repórter especial, e Paulo Peixoto, correspondente da Folha em Belo Horizonte.