• Poder

    Wednesday, 08-May-2024 16:58:44 -03

    PTN se esconde em escritório de advocacia e centro para nordestinos

    FERNANDO GALLO
    DE SÃO PAULO

    28/09/2010 10h00

    "Política é coisa séria, chega de palhaçada", crava o ex-boxeador Maguila no horário eleitoral, para em seguida socar um saco de boxe com a imagem de um palhaço, que representa Tiririca.

    Mas Maguila é candidato pelo PTN (Partido Trabalhista Nacional), o mesmo de Mulher Pêra, Luciano Enéas --clone do velho Enéas Carneiro-- e da atriz pornô Cameron Brasil, ela que pede na TV para o eleitor votar "com prazer no 19... 69".

    'Saio de roupinha curta, é meu estilo de pedir votos', diz Mulher Pêra
    Critério para concessão de legenda é a popularidade, diz presidente do PTN
    Acompanhe a Folha Poder no Twitter
    Conheça nossa página no Facebook

    O empresário José de Abreu, presidente da legenda, garante que o PTN não está zombando do eleitor. Mas ele mesmo protagonizou um deboche marcante na campanha paulistana. Em 2000, quando candidato a prefeito, passou o período eleitoral tratando Marta Suplicy (PT) por "madame" e, colocando-se na condição de homem simplório, dizia que era preciso "pôr um Zé na prefeitura".

    Autor do convite à Mulher Pêra para que concorresse no pleito de 2010, Abreu admite saber que a candidata desconhece os propósitos do partido e da Câmara, como ela própria disse à Folha.

    O presidente do PTN garante, no entanto, que vai "dar um curso parlamentar" a ela, caso seja eleita. "Porque senão lá dentro daquela casa, fica perdida", avalia, com a experiência de quem já exerceu um mandato como deputado no Congresso. Foi eleito em 1998 pelo PSDB, antes de mudar para o PTN.

    VISITA

    A reportagem da Folha visitou o endereço do PTN em Guarulhos, na Grande São Paulo, informado ao TRE como sede do partido no Estado. Do lado de fora, há uma única placa com os dizeres "João Dárcio Advogados".

    Trata-se de João Dárcio Ribamar Sacchi, presidente estadual da legenda. No local, segundo a atendente, há várias salas, e uma delas é do PTN. As outras são do escritório de advocacia e do jornal "O Guarulhense", ambos de propriedade de Sacchi.

    Após pedir para falar com alguém que pudesse informar sobre o processo de filiação ao PTN, o repórter foi informado de que apenas Sacchi poderia fazê-lo, e que ele não estava. Quando se telefona para o PTN-SP, uma voz atende: "João Sacchi/PTN".

    Achar a sede administrativa do PTN Nacional, localizada em São Paulo, não é mais fácil. O endereço informado no site do partido coincide com o do CTN, Centro de Tradições Nordestinas, local de encontro da comunidade nordestina na cidade.

    Como o PTN, o CTN é presidido por José de Abreu.

    Na área informada de 27 mil m2 ficam uma quadra para shows, quiosques com comidas típicas, uma igreja, um parque de diversões. Um pequeno sobrado abriga o PTN. Nem nele, nem na entrada do terreno, há qualquer identificação da legenda.

    Também na sede nacional, ninguém podia informar, no momento da visita, sobre o processo de filiação ao partido, nem havia qualquer material com as propostas do partido ou das campanhas.

    O PTN vive uma disputa judicial pela sua presidência, desde que, em 2004, morreu o então presidente do partido, Dorival de Abreu, pai do atual mandatário. Em junho de 2010, a Justiça do Distrito Federal decidiu destituir José de Abreu da presidência.

    Para o juiz que proferiu a decisão, ela foi ocupada "de formada fraudulenta" e com "má fé", uma vez que Abreu fora expulso do partido por acusações de tentativa de venda de apoio partidário.

    Ele, no entanto, presidiu de forma ilegal uma reunião da direção do partido que dissolveu a comissão que votou pela expulsão. A decisão da destituição de Abreu está suspensa por força de um recurso.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024