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    Ação da luta armada ganha livro em ritmo de 'thriller'

    BERNARDO MELLO FRANCO
    DE SÃO PAULO

    26/11/2011 11h55

    Encantado com Che Guevara, um secundarista carioca entrega um segredo de família para tentar ajudar a esquerda armada a derrubar a ditadura militar.

    Este é o enredo inicial de "O cofre do Dr. Rui", que narra uma das ações mais ousadas da guerrilha brasileira: o roubo do cofre do ex-governador paulista Adhemar de Barros, em julho de 1969.

    A operação foi idealizada pela VAR-Palmares, organização à qual pertenceu a presidente Dilma Rousseff, como solução para financiar suas atividades clandestinas e ajudar militantes no exílio.

    O roubo deu certo, mas as disputas pela partilha do dinheiro e a perseguição implacável do regime lançariam uma espécie de maldição sobre os envolvidos no plano, como narra o autor Tom Cardoso em ritmo de "thriller".

    O "dr. Rui" do título era o codinome usado por Adhemar --um populista de direita que inaugurou o rótulo de "Rouba, mas faz"-- para disfarçar a identidade da amante Ana Capriglione.

    Após a morte do político, exilado em Paris, ela herdaria parte da mitológica "caixinha do Adhemar", uma fortuna de caixa dois e corrupção que chegou a ser cantada em marchinha de carnaval.

    Ana escondeu quase US$ 2,6 milhões (hoje equivalentes a cerca de US$ 15 milhões) na mansão de um irmão em Santa Teresa, no Rio, onde morava o estudante afobado para acelerar a revolução.

    Os tropeços já começariam na contagem das notas, quando guerrilheiros mais empolgados, como o ex-ministro Carlos Minc (Meio Ambiente), teriam sugerido uma festa regada a vinho e camarões num bar da zona sul --a ideia foi derrotada em votação.

    Depois, viria uma série de prisões, mortes e exílios. Em um ano, só dois dos 11 participantes do roubo ainda resistiam na luta armada.

    Dilma, que não integra esta lista, teve papel lateral. Ficou fora da ação e recebeu a tarefa de trocar US$ 1.000 numa casa de câmbio, fingindo sotaque estrangeiro. No ano seguinte, seria presa com outra quantia pequena.

    O uso de sua foto na capa, como apelo comercial, é um dos pecados do livro.

    Hábil na narrativa, o autor às vezes exagera nos recursos de ficção, como a "reprodução" de longas falas de personagens que não entrevistou.

    Logo na abertura, põe intelectuais e diretores do cinema novo na mesa ao lado dos guerrilheiros, transformando um cenário de reunião secreta numa espécie de parque temático da boemia de Ipanema nos anos 60.

    A história já despertaria interesse sem esses truques.

    SERVIÇO
    O COFRE DO DR. RUI
    AUTOR: Tom Cardoso
    EDITORA: Civilização Brasileira
    QUANTO: R$ 29,90 (176 págs.)
    CLASSIFICAÇÃO: Bom

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