O coronel reformado do Corpo de Bombeiros do Rio Walter da Costa Jacarandá admitiu nesta quarta (14) ter participado de sessões de tortura no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna), em 1970, durante a ditadura militar (1964-1985). Jacarandá prestou depoimento em uma sessão conjunta das comissões Estadual e Nacional da Verdade.
"Participei de alguns interrogatórios e certamente que houve excessos. Choque elétrico, pau de arara é fato que aconteceram. Essa história de empalar as pessoas estou sabendo disso agora. Na maior parte das vezes, o que eu fazia era traçar os perfis dessas pessoas e passava para quem ia interrogá-los", afirmou o militar.
Jacarandá foi convocado para depor sobre tortura, desaparecimento e morte do jornalista Mário Alves. Militante do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), Alves foi preso e levado para o DOI-Codi, na sede do 1º Quartel do Exército, na Tijuca, zona norte da cidade. Outros três militares foram convocados para depor sobre o caso mas não compareceram à sessão.
Duleme Garcez (tenente e à época comandante do Pelotão de Investigações Criminais), Luiz Mário Correia Lima (tenente) e Roberto Duque Estrada (tenente) justificaram a falta através de seu advogado. Após dizer que não lembrava de quem teria participado com ele de interrogatórios, nomeou os oficiais como integrantes desses depoimentos.
"Não lembro de quem participou dos interrogatórios e de quais casos participei. O nome do senhor Mário Alves só ouvi após o fim do regime", disse.
Major, em 1970, Jacarandá foi colocado à disposição do DOI-Codi para ajudar na montagem de um grupo especializado na desativação de explosivos e capturas. Deste grupo faziam parte policiais civis, militares e bombeiros. Segundo ele, a ida para o DOI foi motivada pelo espírito de "aventura".
"Era paraquedista e queria entrar nesta guerra. Nunca tive cor política e continuo não tendo.
A sessão conjunta das comissões da Verdade aconteceu no plenário da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). Antes do depoimento de Jacarandá, militantes contaram torturas que sofreram no quartel do Exército durante o regime militar.
"Se alguns nomes do Legislativo e do Judiciário dizem que esses homens não podem ser condenados por suas torturas dá o recado para as polícias de hoje, de todo o país: podem torturar porque no futuro não sofrerão punições", afirmou o professor de Português e um dos fundadores do PCBR Paulo Sérgio Paranhos.
Os três militares que não compareceram à sessão de hoje, no Rio, serão conduzidos na próxima convocação. As comissões também irão solicitar ao MPF (Ministério Público Federal) que eles sejam punidos por "crime de desobediência" por se recusarem a depor.
O advogado Rodrigo Roque disse que este depoimento já foi prestado na Justiça Federal. Há um processo contra eles para esclarecer os casos de tortura no quartel da Tijuca.
"Não se trata de descaso com a comissão. Os três já prestaram depoimento a esta comissão pelos mesmos fatos. Eles respondem pelo desaparecimento do Mário Alves na Justiça", contou o advogado.