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    Retrospectiva: Manifestações não foram pelos 20 centavos

    ALAN GRIPP
    EDITOR DE "COTIDIANO"

    27/12/2013 03h00

    Quando um grupo de jovens se reuniu no dia 6 de junho na avenida Paulista para contestar o aumento da tarifa de ônibus de São Paulo ninguém poderia imaginar que aquele seria o marco zero da maior sequência de protestos no país desde o Fora Collor.

    Afinal, o MPL (Movimento Passe Livre) fazia ali mais uma de suas manifestações, convocadas após o anúncio de cada reajuste da tarifa –que, neste ano, diga-se, foi abaixo da inflação. Mas como o ato transformou-se numa explosão de protestos pelo país? Olhando a cadeia de acontecimentos à distância é possível observar um fenômeno à época invisível e levantar hipóteses.

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    No mesmo dia em que o MPL se reuniu na Paulista, pesquisadores do Datafolha estavam nas ruas. O que eles colheram, publicado três dias depois na Folha, mostrava que algo estava fora da curva. A popularidade da presidente Dilma caiu 8 pontos, o primeiro tombo desde sua posse, em 2011. A pesquisa também detectou um aumento do pessimismo do brasileiro de uma forma geral.

    À época, ninguém (jornalistas, cientistas sociais e políticos incluídos) ligou uma coisa à outra. O ministro Aloizio Mercadante (Educação) chegou a eleger um culpado: o tomate, item que sofrera forte aumento de preço. Os famosos cartazes nos atos seguintes evidenciaram essa grande e silenciosa insatisfação, que encontrou no aumento da tarifa, que tem efeito sobre grande parcela da população, o catalisador perfeito. "Não era pelos 20 centavos", dizia um deles.

    Também não há dúvida de que os governos deram sua contribuição ao reprimir violentamente alguns protestos, após atos de vandalismo, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, despejando gasolina na fogueira.

    É possível distinguir ao menos três fases de protestos. A primeira teve foco na tarifa e reuniu majoritariamente estudantes. A segunda –com forte apoio popular e mais efêmera– arrastou multidões contra a baixa qualidade dos serviços públicos, a corrupção, a polícia e tudo o mais.

    Por fim, restaram as "manifestações" mais radicais, já sem o apoio da maioria da população, marcadas pela quebradeira dos adeptos da tática "black bloc". Num balanço de "conquistas das ruas" há muito o que enumerar.

    Talvez a maior delas tenha sido impor à classe política a sensação de estar sob constante vigilância. A pergunta agora é: haverá protestos na Copa? É provável que sim, mas dificilmente veremos algo na mesma proporção. O gigante, por ora, voltou a adormecer.

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