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    Vice da Câmara viajou em avião emprestado por doleiro preso

    ANDRÉIA SADI
    DE BRASÍLIA

    01/04/2014 03h57

    O vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR), pegou emprestado um avião com o doleiro Alberto Youssef, pivô da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que apura esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões em operações suspeitas.

    A viagem a João Pessoa, na Paraíba, foi discutida em uma conversa entre os dois por um serviço de mensagem de texto, no dia 2 de janeiro, segundo documentos da investigação da PF aos quais a Folha teve acesso.

    De acordo com a troca de mensagens de um aplicativo chamado "BBM", Youssef agendou voo em jato particular para Vargas às 6h30 em avião de prefixo PR-BFM.

    Pedro Ladeira/Sérgio Lima/Folhapress
    O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PT), e o doleiro Alberto Youssef
    O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PT), e o doleiro Alberto Youssef

    "Tudo certo para amanhã", diz mensagem originada pelo celular do doleiro. Não fica claro se o avião pertence a ele.

    "Boa viagem se (sic) boas férias", acrescenta. Procurado pela Folha, Vargas disse que conhece o doleiro há mais de 20 anos e que pediu o avião porque voos comerciais estavam muito caros no período, mas que pagou o combustível.

    "Não sei se o avião é dele, ele foi dono de hangar e eu perguntei se ele conhecia alguém com avião", disse o petista. Apesar disso, Vargas diz ter cometido uma "imprudência". "Eu não sabia com quem eu estava me relacionando. Não tenho nenhuma relação com os crimes que ele eventualmente cometeu."

    O petista integra a ala do partido mais ligada ao ex-presidente Lula e se destacou nos últimos meses pela defesa dos colegas condenados no processo do mensalão.

    Na sessão de reabertura do Congresso, em fevereiro, ele chegou a provocar o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa –que estava sentado ao seu lado–, erguendo o punho cerrado. O gesto foi usado por petistas ao se entregarem à polícia.

    Em outra conversa, Vargas e Youssef discutem, segundo a PF, um assunto de interesse do doleiro no Ministério da Saúde. A transcrição não deixa claro que assunto seria esse, mas indica que ele teria sido tratado com o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do ministério, Carlos Gadelha.

    A empresa citada é a Labogen, cuja folha de pagamento é de R$ 28 mil mensais e que, segundo a Operação Lava Jato, que prendeu o doleiro, teria sido usada por Youssef para fazer remessas ilegais de US$ 37 milhões ao exterior.

    O relatório de análise da PF identificou uma conversa onde Vargas diz que "a reunião com Gadelha foi boa demais". "Em outro momento, diz que 'Gadha' –possivelmente referindo-se a Gadelha– 'garantiu que vai nos ajudar'."

    Vargas nega contato com Gadelha. Ele diz que Youssef o procurou para saber como funcionavam parcerias com o ministério. Segundo ele, Youssef e um grupo de investidores estavam tentando recuperar uma farmoquímica.

    Sobre a mensagem, o deputado diz lembrar de ter encontrado um representante de Youssef no aeroporto, que não se recorda do nome, e que este relatou a ele que teria tido uma boa reunião com Gadelha.

    O Ministério da Saúde diz que Gadelha nunca recebeu o deputado em audiência e nem tratou com ele do contrato citado na investigação da PF. A Folha não localizou ontem o advogado do doleiro.

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