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    Líderes de greves polêmicas da PM vencem eleições no Nordeste

    DANIEL CARVALHO
    DO RECIFE
    ANDRÉ UZÊDA
    DE FORTALEZA

    08/10/2014 12h22

    Policiais militares que lideraram greves recentes da corporação em três Estados do Nordeste serão deputados estaduais a partir do ano que vem.

    Ancorados numa rede de apoio de colegas, e em alguns casos fazendo campanha conjunta, os líderes das controversas paralisações, que levaram caos à segurança e foram consideradas ilegais pela Justiça, saíram vitoriosos das urnas em Pernambuco, no Ceará e na Bahia.

    No Estado governado por Cid Gomes (Pros), o vereador por Fortaleza Wagner Gomes (PR) quebrou um recorde local. Capitão Wagner, como é conhecido, conseguiu a maior votação para deputado estadual da história do Estado –194,2 mil votos.

    Desafeto do governador, de quem não é parente, Wagner, 35, liderou uma greve de seis dias da corporação, no Ano Novo de 2012. Naquele mesmo ano, o oficial se elegeu para a Câmara Municipal de Fortaleza.

    Nesta campanha, declarou R$ 44 mil em gastos –diz que foram recursos próprios e do empresário Luís Eduardo Girão, maior investidor do país em peças e filmes de temática espírita.

    "Não sou espírita, mas ele gostou das bandeiras que defendo, como a proibição do aborto", disse o deputado eleito.

    Wagner, que apoiou o candidato da oposição ao governo do Estado (Eunício Oliveira, PMDB), foi acusado por Cid na campanha de "controlar uma milícia" na PM e de prender rivais para influenciar resultados nas urnas.

    "O governador está ficando ensandecido com as eleições. Nunca fui chefe de milícia. A corporação foi quem não aceitou o uso da máquina pública para eleger os candidatos dele", disse o deputado recém-eleito.

    O capitão fez campanha "casada" com outro grevista, o cabo Sabino, que conseguiu 120 mil votos e foi eleito para a Câmara dos Deputados. As agendas conjuntas incluíam visitas a policiais escalados para trabalhar na Copa do Mundo.

    A greve da PM no Ceará, iniciada em 29 de dezembro de 2011, foi marcada por episódios de arrastões, assaltos e depredação do patrimônio público. Motociclistas armados foram às ruas para assaltar supermercados e render pessoas. A Força Nacional foi enviada ao Estado.

    Os grevistas reivindicavam ajustes salariais de até 90%, escala de 40 horas semanais e anistia para os policiais que participaram de ações contra o governo um ano antes da paralisação. Conseguiram aumento de 7% e redução gradual da jornada de trabalho. Entre ativos e inativos, são cerca de 24 mil PMs no Estado.

    CANDIDATO 'PRESO'

    O soldado que passou 40 dias preso pela atuação como líder de greves da PM baiana em 2012 e 2014, Marco Prisco (PSDB), foi eleito para a Assembleia com 107 mil votos –terceira maior votação do Estado.

    O resultado veio a despeito de restrições da Justiça para a liberdade: Prisco não pôde viajar para fora de Salvador nem sair de casa depois das 18h e nos finais de semana.

    Para suprir sua ausência no interior, teve o apoio de uma rede de voluntários ligados à polícia. E mandou distribuir máscaras de papelão com a imagem de seu rosto.

    "Foi uma campanha difícil, mas tive muito apoio da tropa. A consciência política dos policiais me deu esta eleição", disse Prisco, 45. A PM baiana tem 32 mil servidores só na ativa.

    Assim como Wagner, ele também é vereador –só que por Salvador. Declarou ter gasto cerca de R$ 50 mil na campanha para se eleger deputado. Promete empenho por Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da eleição presidencial e diz que irá cobrar do candidato a desmilitarização da polícia, sua principal bandeira de campanha.

    Deflagrada na véspera do feriado de Páscoa, a greve da PM baiana durou dois dias, quando foram registrados saques, arrombamentos e 52 homicídios.

    Dias depois, após a prisão de Prisco, os policiais fizeram "operação tartaruga" nas ações de policiamento ostensivo em Salvador e no interior.

    PERNAMBUCO

    Na terra da família Campos, o novo político da PM é Joel Maurino do Carmo, 37, o soldado Joel da Harpa (Pros), líder da greve da categoria de maio deste ano.

    Com 19.794 votos, ele foi o último candidato da coligação a conseguir uma vaga, puxada pelo pastor Cleiton Collins (PP) e seus 216.874 votos.

    "Graças a Deus deu certo", disse Joel, líder da mobilização que resultou em cenas de violência e vandalismo no Estado durante dois dias. A paralisação só terminou após o envio de tropas do Exército e da Força Nacional.

    O soldado teve mais sucesso do que outros dois líderes da greve que também concorreram na eleição deste ano.

    Durante a campanha, Joel da Harpa fez dobradinha com o baiano Prisco –gravaram juntos um vídeo que circulou por redes sociais entre as tropas dos dois Estados.

    "A gente manteve uma relação muito boa durante a campanha", diz o soldado, que também é diácono da Igreja Batista e integrará a bancada religiosa da Assembleia.

    Seus temas principais que serão levados para a Assembleia, diz ele, são polícia, segurança e a "bandeira da família". Segundo Joel da Harpa, sua coligação ainda não definiu se integrará a base do governador eleito Paulo Câmara (PSB).

    "Não vou ser inimigo do governador, mas também, num primeiro momento, não quero ser amigo. Utilizarei o mandato para ser uma voz da categoria na Assembleia", afirma.

    Todos os legisladores eleitos ligados à corporações policiais deverão se reunir em novembro em Brasília.

    "Será uma reunião pluripartidária. Vamos apresentar propostas para a segurança pública em todos os níveis e independentemente do governo", diz Wagner, do Ceará.

    Colaborou JOÃO PEDRO PITOMBO, de Salvador

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