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    Opinião: Morreram dois Márcios Thomaz Bastos

    JOAQUIM FALCÃO *

    20/11/2014 18h42

    Vários Márcios disputam entre si, agora, sua própria memória.

    Há o Márcio advogado de grandes causas, muitas ingratas, várias perdidas. Mas todas ganham quando através delas se assegurou o contraditório, o direito de defesa, sem os quais o estado democrático não há.

    Será que existem causas perdidas de antemão?

    Como advogado, foi estrategista.

    Definia a diretriz e o próximo lance.

    Seu, e do seu adversário também.

    Calculava o benefício da vitória e o controle do dano na derrota, ao mesmo tempo.

    Sua especialidade foi administração dos riscos das causas arriscadas.

    Mas há também o Márcio "Pedro pedreiro", construtor de instituições.

    Foi ativista do PT, foi liderança na democratização.

    Sem ele, Nelson Jobim e José Jorge, inexistiria o Conselho Nacional de Justiça.

    Como interlocutor, ajudou presidentes a criar um novo Supremo pós-1988, muito mais independente.

    Deu início a uma Polícia Federal feita de ousadias.

    Um dos criadores do Prêmio Innovare.

    Avalizou, diante de tendências de ambições nem sempre democráticas, soluções judiciais para crises políticas e éticas.

    Não buscou unanimidades em sua vida.

    Elegante, foi romano e florentino.

    Viveu o nem sempre discreto risco da vida. Decidiu não ser um observador. Preferiu agir. Existe mais esperança do que agir?

    * JOAQUIM FALCÃO é doutor em educação pela Université de Génève, mestre em direito pela Universidade Harvard (EUA), e bacharel em Direito pela PUC-RJ. É diretor da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e foi Conselheiro do Conselho Nacional de Justiça de junho de 2005 a junho de 2009

    Trajetória de Márcio Thomaz Bastos

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