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    General relata as sequelas deixadas por ataque em 66

    LUCAS REIS
    DE MANAUS

    14/12/2014 02h00

    A audição comprometida e as dores no lado esquerdo do corpo não deixam o general de reserva Sylvio Ferreira da Silva, 88, esquecer-se da manhã de 25 de julho de 1966.

    Ele foi um dos 14 feridos do atentado no aeroporto de Guararapes, no Recife, quando uma bomba matou um vice-almirante, Nelson Gomes Fernandes, e um jornalista, Edson Régis de Carvalho.

    Quase 50 anos depois, Silva vive em Brasília, onde acompanhou o noticiário sobre a divulgação, na quarta-feira (10), do relatório final da Comissão da Verdade e viu a presidente Dilma Rousseff (PT) chorar durante o evento.

    "Como pode uma coisa ser voltada somente para um lado?", diz Silva, endossando o discurso dos militares de que a comissão ignorou os crimes cometidos pela luta armada durante a ditadura militar (1964-1985). "A comissão ouviu um lado só, o lado do terrorismo não foi investigado. Afinal de contas, essa repressão foi para evitar que acontecesse o pior."

    "Estava vendo os comentários de colegas na internet, e também acho lamentável a choradeira da Dilma", disse Silva. "Ridícula, ridícula."

    O atentado tinha como alvo o general Costa e Silva, que viajava em campanha antes de suceder Castello Branco (1964-67) na Presidência. Ele escapou ao mudar o trajeto e desembarcar em João Pessoa.

    No momento da explosão, Silva conversava com o jornalista que acabou morto. A tragédia não foi maior porque a maioria das pessoas que aguardavam o candidato deixara o local minutos antes, quando surgiu a informação de que o avião havia mudado de rota: "Quando o pessoal debandou depois da mensagem do alto-falante, eu chamei o jornalista para conversar. Foi quando explodiu."

    Ele teve fratura exposta, estourou um tímpano e perdeu quatro dedos da mão esquerda: "O fêmur da minha perna esquerda estilhaçou completamente, estraçalhou. Mas minha artéria femoral continuou intacta. Foi um milagre."

    Seu colega da Marinha Nelson Gomes Fernandes não teve a mesma sorte. "Eu o conhecia desde 1958, ele levou o bujão na nuca", diz.

    Silva deixou o Recife e foi se tratar nos EUA, onde fez implantes nos dedos e passou por cirurgia na perna. Após meses de fisioterapia, voltou à ativa, mas com sequelas.

    "Comecei usando bengala, mas sofro até hoje. Meu lado esquerdo, do pé ao ouvido, é tudo anarquizado. Tenho problema nos dedos do pé, na perna, e o tímpano estourado", afirma Silva.

    "Graças a Deus, superei o trauma, mas nunca vou me esquecer desse dia."

    ATENTADO EM AEROPORTO

    A bomba que explodiu no saguão do aeroporto dos Guararapes (PE), em julho de 1966, por pouco não foi uma tragédia maior.

    Naquela manhã, o anúncio de que o general Arthur da Costa e Silva, alvo do atentado, havia mudado sua rota esvaziou o saguão. Duas pessoas morreram e outras 14 foram feridas.

    O general assumiu a Presidência no ano seguinte.

    Na época, a polícia culpou o ex-deputado Ricardo Zarattini e o professor Edinaldo Miranda. O atentado, porém, foi organizado por um grupo ligado à Ação Popular, conforme militantes assumiram mais tarde.

    Há um ano, a Comissão da Verdade de Pernambuco apresentou documentos de 1970 das Forças Armadas que provam que o governo militar sabia da inocência deles. A dupla chegou a ser presa e torturada, mas apenas Miranda foi processado e condenado.

    LISTA

    Os clubes Naval, Militar e da Aeronáutica divulgaram na quinta (11), uma lista com 126 nomes de militares, policiais e civis que, segundo eles, foram mortos em ações da luta armada contra a ditadura militar (1964-1985).

    De acordo com a nota, publicada em forma de anúncio em jornais do Rio e divulgada no site do Clube Militar, a intenção é homenagear vítimas "desprezadas" pela Comissão Nacional da Verdade.

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