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    Kátia Abreu assume ministério sob críticas de índios e sem-terra

    FABIANO MAISONNAVE
    DE SÃO PAULO
    GABRIELA GUERREIRO
    DE BRASÍLIA

    05/01/2015 20h53

    Setores envolvidos com temas fundiários criticaram as declarações da nova ministra da Agricultura, Kátia Abreu, sobre a reforma agrária e a questão indígena.

    Em entrevista à Folha publicada nesta segunda-feira (5), ela afirmou que o Brasil não tem mais latifúndios e que os indígenas "saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção". Também criticou invasões do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

    Em discurso durante sua cerimônia de posse no mesmo dia, Kátia Abreu afirmou que não vai travar nenhuma "guerra" nem vai aceitar qualquer "provocação" que prejudique seu trabalho à frente do ministério.

    Para Ariovaldo Umbelino de Oliveira, professor sênior de geografia da USP, a ministra errou ao sugerir que já não há grandes propriedades improdutivas e concentração de terras no país.

    Ele citou números do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) que mostram a existência de 196 imóveis com áreas acima de 100 mil hectares no país. Juntos, somam 66,4 milhões de hectares.

    Segundo Oliveira, há várias propriedades declaradas improdutivas pelo Incra, como uma fazenda de 246 mil hectares em Boca do Acre (AM).

    "São equívocos que uma representante de determinada classe social comete quando assume um ministério."

    Para o historiador terena Wanderley Dias Cardoso, no caso de Mato Grosso do Sul –citado pela ministra– os indígenas não viviam em florestas, mas em pequenas reservas demarcadas pelo Estado.

    "No início do século 20, o governo achava que os índios logo deixariam as reservas e seriam abrasileirados. Não foi o que ocorreu", afirma.

    Na aldeia Limão Verde, em Aquidauana (MS), onde Cardoso ensina, moram 1.800 terenas numa área de aproximadamente 4.000 hectares.

    "O que a gente vê na prática é que outros órgãos, como o Ministério da Agricultura, têm mais força política para falar sobre o assunto do que a Funai, o órgão indigenista. O cenário não é animador."

    O MST também fez duras críticas a Kátia Abreu. O coordenador Alexandre Conceição a tachou de "latifundiária" e disse que ela devia "tomar aulas" sobre o campo.

    "Uma ministra da República não pode dizer tanta besteira. Devia ao menos conhecer o país em que vive."

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