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    Assessor pessoal conheceu Dilma aos 13 anos quando era office-boy no RS

    MARINA DIAS
    DE BRASÍLIA

    01/02/2016 12h21

    Joel Silva - 11.out.2010/Folhapress
    Dilma e o assessor Anderson Dorneles fazem campanha presidencial para a petista em 2010
    Dilma e o assessor Anderson Dorneles fazem campanha presidencial para a petista em 2010

    "O menino vai se casar". A frase que ecoou nos corredores do Palácio do Planalto em outubro do ano passado, somada aos temores de uma delação premiada de executivos da empreiteira Andrade Gutierrez, chancelou o destino de um dos mais fiéis assessores presidenciais.

    Anderson Dorneles, um gaúcho de 34 anos, costura há pelo menos três meses sua saída do governo Dilma Rousseff, publicada nesta segunda-feira (1º) no Diário Oficial da União.

    Além da proximidade de seu casamento, marcado para março em um luxuoso hotel em Bento Gonçalves (RS), um bar localizado no estádio Beira-Rio, obra construída pela Andrade Gutierrez, tornou insustentável a permanência do assessor ao lado de Dilma.

    Anderson é sócio do RedBar e o conteúdo da delação que vem sendo negociada por executivos da empreiteira, considerado de potencial explosivo pelo Planalto, obrigou o jovem gaúcho a ter uma conversa definitiva com a chefe no final do ano passado. Dessa vez a contragosto, Anderson deixou seu cargo no governo.

    Ele havia tentado pedir demissão pelo menos outras três vezes ao longo das quase duas décadas em que trabalhou com Dilma. Mas, em 26 de dezembro de 2015, ao sair oficialmente de férias, sabia que não poderia mais voltar ao seu gabinete no terceiro andar do Palácio do Planalto.

    Para o seu lugar, foi nomeado o jornalista gaúcho Bruno Gomes Monteiro, ex-chefe de gabinete da Secretaria de Políticas para as Mulheres.

    RELAÇÃO A DOIS

    Foi a presidente quem deu o apelido de "o menino" para Anderson, que conheceu quando ele tinha apenas 13 anos e era office-boy da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, comandada à época por Dilma.

    Desde então, os dois seguiram juntos até a Presidência da República, numa relação maternal, porém, com todos os contornos de "gato e rato".

    "Não havia ninguém tão perto do poder quanto Anderson e também não havia quem sofresse tanto quanto ele no governo", admite um atento observador de dentro do Planalto.

    Anderson era o portador do iPhone e do iPad da presidente. Era ele quem recebia –e lia– os e-mails e atendia às ligações, inclusive dos ministros, antes de repassá-los a Dilma. Uma de suas funções era sentir a temperatura da chefe e encontrar o melhor momento para entregar recados e avisá-la sobre os telefonemas.

    Opinião sobre o governo e ajuda com a avaliação do cenário político, porém, Dilma nunca pediu ao "menino", que também escutava a maior parte das broncas e, muitas vezes, gritarias da presidente.

    A relação tão próxima já teve vários outros desgastes, que culminaram em ameaças e pedidos de demissão que não foram aceitos por Dilma.

    Em um deles, quando a petista ainda era ministra de Minas e Energia do governo Lula, Anderson contou que havia conseguido um novo emprego em Porto Alegre, na siderúrgica Gerdau. Dilma não hesitou em telefonar para o empregador e pedir que ele não contratasse seu assessor.

    Em 2010, durante a campanha presidencial, "o menino" simplesmente voltou à capital gaúcha, alegando estresse, e lá ficou por duas semanas. Outro homem de confiança de Dilma, Giles Azevedo foi incumbido de ir pessoalmente a Porto Alegre para convencer Anderson a voltar. E ele voltou.

    No segundo mandato da presidente, a proposta foi que ele trabalhasse sete dias por semana, sem intervalos. Anderson protestou e disse que era inviável continuar dessa maneira. Mais uma vez Dilma cedeu e pediu que ele revezasse as tarefas, pelo menos por um dia, com outra assessora.

    A vida de dedicação quase total à presidente, aliás, interrompia-se muitas vezes somente nas madrugadas.

    Mas Anderson criou uma regra pessoal de nunca dormir no Palácio da Alvorada. Vez ou outra precisava sair duas ou três da manhã após um exaustivo dia de trabalho, mas corria para a casa que dividia com outros dois amigos mesmo que para poucas horas de sono.

    Segundo Anderson, se dormisse uma única vez em um dos quartos de hóspede da residência oficial da Presidência da República, nunca mais sairia de lá. "Mal presságio", brinca um colega de governo.

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