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    folha, 95 anos

    Jornalismo vive 'profundo paradoxo', diz diretor de Redação da Folha

    DE SÃO PAULO

    18/02/2016 09h39

    Foi aberto às 9h desta quinta-feira (18), no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, o Encontro Folha de Jornalismo. O ciclo de debates celebra os 95 anos do jornal, que serão completados na sexta (19).

    Em breve apresentaçāo, o diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, destacou que o jornalismo vive hoje um "profundo paradoxo: nunca se divulgou nem se leu tanta notícia", mas "os pilares de sustentação do jornalismo foram abalados pela transformação tecnológica".

    Por um lado, surgiram novos veículos nas novas plataformas, "diversidade benéfica para o público", com "jornalismo comunitário, militante, autoral e até de entretenimento", trazendo pluralidade. "Mas são parciais. Não podem nem pretendem reproduzir a referência do jornalismo profissional", afirmou o diretor de Redaçāo da Folha.

    Por outro lado, "bom jornalismo é atividade dispendiosa" e, "embora exista um público muito promissor disposto a remunerar o trabalho jornalístico na forma de assinatura digital, a perspectiva publicitária nesse campo tem se mostrado mais problemática". Lembrou o crescimento da escolaridade e da classe média como "motivo de confiança".

    Encerrou com um provérbio inglês sempre lembrado por seu pai, Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), publisher da Folha por quase cinco décadas: "Where there's a will, there's a way" (onde houver uma vontade, há um caminho).

    Danilo Verpa/Folhapres
    Otavio Frias Filho durante a abertura do Encontro Folha de Jornalismo
    Otavio Frias Filho durante a abertura do Encontro Folha de Jornalismo

    Frias Filho é autor, entre outros, dos livros "Cinco Peças e Uma Farsa" (Cosac Naify, 2013) e "Queda Livre - Ensaios de Risco" (Companhia das Letras, 2003).

    Imediatamente após a abertura, começou o primeiro debate, sobre Novas Formas de Informar, abordando os dilemas da grande mídia impressa nesse cenário de abundância de informações e forte concorrência do meio digital.

    Participam Vera Brandimarte, diretora de Redação do "Valor Econômico", Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, e Leão Serva, colunista da Folha e autor do livro "A Desintegração dos Jornais", com mediação de Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha.

    O Encontro Folha de Jornalismo ocorre nesta quinta (18) e sexta (19). Oito mesas, quatro a cada dia, abordam temas como: a importância crescente do jornalismo profissional, a lei que regulamenta o direto de resposta, o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e a relação entre imprensa e governo na Argentina e na Venezuela.

    *

    LEIA A ÍNTEGRA DO DISCURSO

    Senhoras e Senhores, Prezados Expositores e Convidados, Caros Colegas:

    O jornalismo vive um profundo paradoxo. Nunca se divulgou nem se leu tanta notícia como hoje. Uma série de veículos surgiu ou se espraiou pelas novas plataformas de comunicação. Uma imensidade de novos leitores se acrescentou ao leitorado tradicional. As redes sociais se tornaram uma ampla câmara de ressonância e debate sobre o que é publicado nos próprios meios jornalísticos.

    Essa diversidade tem sido benéfica para o público. Variantes de jornalismo comunitário, militante, autoral e até de entretenimento contribuem para a pluralidade de ângulos. Mas são parciais.

    Não podem nem pretendem reproduzir a referência do jornalismo profissional, que procura fazer um resumo periódico do mundo, resumo sempre precário, mas tão abrangente, isento e confiável quanto possível –e tendo boas razões de mercado para se empenhar em perseguir esse ideal.

    Por outro lado, e daí o paradoxo, os pilares de sustentação econômica do jornalismo foram abalados pela transformação tecnológica. Bom jornalismo é atividade dispendiosa. Embora exista um público muito promissor disposto a remunerar o trabalho jornalístico na forma de assinatura digital, a perspectiva publicitária nesse campo tem se mostrado mais problemática.

    A equação econômica que permita sustentar o jornalismo como serviço independente e criterioso, movido pelo espírito público, ainda está por ser solucionada. Este será, com certeza, um dos temas neste encontro.

    Mas os avanços na escolaridade e o próprio aumento da classe média em escala mundial são motivo para confiança. Preparam, por assim dizer, a demanda, um leitorado cada vez mais numeroso e com mais discernimento.

    Dada a qualificação dos participantes, é certo que as discussões de hoje e amanhã vão propiciar uma troca de experiências preciosa sobre os caminhos da profissão. Vão iluminar também a tempestade de crises –econômica, política e por assim dizer judicial– que se desatou sobre o Brasil.

    Em nome da Folha de S.Paulo, agradeço a presença de cada um de vocês e em especial dos debatedores que em breve estarão expondo os seus pontos de vista aqui. Não é todo dia que um jornal faz 95 anos, e será o caso de estender –a data é amanhã, 19 de fevereiro– esse agradecimento aos que fizeram da Folha o núcleo de um grupo de comunicações que tanto cresceu e se multiplicou.

    Aos que fizeram desse jornal um serviço público, um estilo de imprensa e até um ícone. Aos profissionais que trabalharam e trabalham nesse empenho coletivo. Aos anunciantes, fornecedores, parceiros, clientes, colunistas, aos leitores.

    Nossa celebração é austera, esta introdução deve ser breve. A melhor resposta a este período de dificuldades e desafios me parece estar naquele provérbio inglês que Octavio Frias de Oliveira, que conduziu e inspirou este empreendimento durante décadas (e que gostava de provérbios), costumava citar.

    "Where there is a will, there is a way" –onde houver uma vontade, há um caminho. Parabéns. Muito obrigado.

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