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    folha, 95 anos

    Painel discute modelos de negócios dos jornais

    DE SÃO PAULO

    18/02/2016 11h20

    Embora as assinaturas digitais dos jornais estejam crescendo, as receitas publicitárias não acompanham essa tendência. Isso cria desafios para os veículos, que foram discutidos pelos participantes da primeira mesa de debate do Encontro Folha de Jornalismo, seminário que celebra os 95 anos do jornal.

    O painel, realizado nesta quinta (18) no MIS (Museu da Imagem e do Som), em Sāo Paulo, contou com Vera Brandimarte, diretora de redação do "Valor Econômico", Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, e Leão Serva, colunista da Folha. A mediação foi do editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila.

    Segundo Vera Brandimarte, do "Valor Econômico", as assinatura do jornal impresso caíram 7%, em 2015, enquanto a digital cresceu 35%. Neste ano, segundo suas projeções, a assinatura digital deve superar a do impresso. O número de usuários da versāo digital do jornal saltou de 1,4 milhão para 2,3 milhões no ano passado.

    "Mesmo assim, a receita publicitária é de chorar", disse Brandimarte. Segundo ela, o crescimento publicitário foi de 0,2% no ano passado e as receitas do digital ainda não representam 5% do total.

    Essa situação está levando importantes veículos em todo o mundo a mudar de mãos, passando para grupos de investidores ou, no pior dos casos, fechando as portas.

    Danilo Verpa/Folhapress
    Da esq. para dir.: Vera Brandimarte, Eugênio Bucci, Sérgio Dávila e Leão Serva no Encontro Folha de Jornalismo
    Da esq. para dir.: Vera Brandimarte, Eugênio Bucci, Sérgio Dávila e Leão Serva

    Para o jornalista Leão Serva, colunista da Folha, essa crise reflete a resistência dos grandes veículos em romper padrões. "Não se faz revolução com a cultura do passado", disse. Para ele, assistimos a um novo ciclo econômico e a sociedade se relaciona de uma forma diferente com o jornalismo hoje. "A publicidade só reflete o fim do modelo de jornalismo de massa."

    Serva considera que a publicidade para os jornais morreu com a tecnologia, que agora permite alcançar o leitor diretamente nas plataformas digitais (mídias sociais, por exemplo). Para ele, o caminho está em experiências como a do "The Washington Post", adquirido pelo dono da Amazon, Jeff Bezos, e o BuzzFeed.

    Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, considerou que essa ameaça compromete o futuro da democracia. Para ele, os jornais têm o papel de manter o debate permanente do sistema de poder. "Ela é indispensável para que a democracia funcione e se aperfeiçoe. O poder é sistêmico e a imprensa é vital, porque está fora do sistema", disse.

    PATROCÍNIO

    Respondendo a uma pergunta da plateia, o editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, comentou as críticas ao jornal por ter aceitado patrocínio da Odebrecht para o evento. A empreiteira é um dos alvos da operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção da Petrobras.

    Dávila disse que o jornal separa o "comercial" do "editorial". "A Odebrecht é uma empresa constituída, tem milhares de empregados. Alguns dirigentes são investigados, nenhum condenado, e faz parte de uma carteira de mais de dez mil empresas que anunciam na Folha. Se fosse assim, deixaríamos de assistir a qualquer filme patrocinado pela Petrobras, não iríamos a nenhum evento, porque ela patrocina quase todos."

    O editor-executivo ressaltou ainda que nenhum dos debatedores foi remunerado.

    O professor Eugênio Bucci, que disse ter sido criticado por participar de um evento patrocinado pela Petrobras, considerou "um engano supor que isso [o patrocínio] comprometa a honestidade".

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