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    folha, 95 anos

    Colunistas elegem as capas que não esquecem (e que ajudaram a fazer)

    DE SÃO PAULO

    27/02/2016 02h00

    O que torna uma capa de jornal memorável? Um evento histórico? Uma informação que abala um governo? Uma entrevista com uma grande personalidade? Cinco jornalistas da Folha escolhem a primeira página mais marcante que ajudaram a fazer.

    Para a ombudsman Vera Guimarães Martins, foi a capa que noticiou o acidente do voo 3054, da TAM, em 2007, quando uma aeronave atravessou uma pista do aeroporto de Congonhas e se chocou com um depósito de cargas, matando 199 pessoas.

    "O acidente aconteceu perto da hora do fechamento. Você ia fazendo a manchete sem saber o que estava acontecendo. A adrenalina estava a mil, tentando levar a informação mais ou menos acurada no dia seguinte, porque você sabe que não será totalmente precisa", lembra Guimarães.

    Já o colunista Vinicius Torres Freire cita uma entrevista que fez com o então presidente Fernando Henrique Cardoso. A conversa ocorreu três anos depois de a Folha noticiar que o sociólogo teria dito a empresários que esquecessem "o que escrevemos no passado, porque o mundo mudou e a realidade hoje é outra", frase que ele ainda nega ter falado.

    Na longa entrevista, o tucano rememorou e discutiu as teorias que desenvolveu como acadêmico e analisou a situação do Brasil após quase dois anos de seu primeiro governo. "Não foi marcante para o mundo, mas foi para mim", ri Torres Freire.

    A colunista e repórter especial Paula Cesarino Costa elege a edição que registrou os ataques do 11 de Setembro.

    "É possível medir a dimensão histórica de um acontecimento quando todos se recordam de onde estavam e do que faziam quando foram surpreendidos pela notícia. O ataque às torres gêmeas divide as gerações entre as que a presenciaram e as que ouviram dele falar", diz Cesarino, que era secretária de Redação na época.

    "Como os aviões se chocaram com as torres de manhã, tivemos praticamente o dia todo para preparar a primeira página e a edição histórica. Mas o sentimento de impotência vivido naquele momento e a dificuldade de entendimento das suas consequências foram aflitivos e atordoantes."

    A colunista Mônica Bergamo escolhe uma entrevista em que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Fux revelou ter pedido que José Dirceu apoiasse junto ao governo a indicação de seu nome para compor a mais alta corte do país –o petista já era, na ocasião, réu no processo do mensalão, que seria julgado pelo próprio STF.

    "Naquela época, os ministros do STF eram retratados como verdadeiros heróis. A Folha teve a coragem de ir fundo em um reportagem que mostrou como um deles conseguiu ser nomeado, quais apoios políticos buscou. Outros jornais quase não repercutiram, mas, como um amigo diz, foi uma bomba que explodiu dentro do castelo: fora ninguém ouviu, mas dentro todo mundo sabia o que era essa reportagem."

    Já o colunista Janio de Freitas lembra de quando revelou que o general Figueiredo, último presidente da ditadura, se afastaria do cargo para realizar uma cirurgia cardíaca, o que o governo negava.

    "Todos os jornais, inclusive a Folha, me desmentiram no dia seguinte. Mas, como eu tinha certeza que a informação estava correta, esperei. Sete dias depois recebi uma ligação de Brasília dizendo que o general tiraria uma licença para cuidar de sua saúde", conta.

    Para o colunista Clóvis Rossi, a escolha é a capa que sucedeu o dia em que o Congresso rejeitou a emenda Dante de Oliveira, enterrando a chance de eleições diretas em 1984.

    A Folha daquele 29 de junho trazia o título "Nação frustrada!" e uma tarja convocando os leitores a se vestirem de preto em sinal de desaprovação à decisão dos parlamentares.

    "Foi o último estertor de jornalismo militante, de combate, que era válido numa ditadura, mas perdeu sentido com a democracia", analisa.

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