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    folha, 95 anos

    Dilma, Xuxa, Messi: quando eles viraram notícia pela 1ª vez?

    MARCELO COELHO
    COLUNISTA DA FOLHA

    28/02/2016 02h00 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Os jornalistas têm uma obsessão, muito justa do ponto de vista profissional, com o chamado "furo". Às vezes, a meu ver, a coisa toma importância exagerada: o lançamento de tal livro não pode ser noticiado nesta semana, diz alguém, porque o outro jornal já deu hoje a notícia...

    É o pavor de ficar para trás, semelhante à glória de ter publicado com antecedência algo que, bem ou mal, será universalmente conhecido um dia depois. Ou em questão de horas, graças à internet.

    Sou um leitor atípico, mas não vejo razão para tanta pressa atualmente. Mesmo antes do noticiário on-line, a questão da notícia antecipada talvez não importasse muito para os assinantes do jornal impresso.

    Claro que em casos extremos, como a morte de um presidente ou uma descoberta na medicina, é muito ruim saber que o "seu" jornal comeu barriga. E um jornal que seja campeão de atrasos não terá grande futuro.

    Mas o "furo" sensacional talvez tenha sido realmente crucial apenas na época em que a maior parte das vendas se dava nas bancas: aí sim, uma vez exposta ao lado de publicações rivais, a primeira página com notícia exclusiva poderia fazer diferença.

    Causa uma sensação estranha, meio de impotência e meio de satisfação, rever as edições antigas da Folha para saber quando, e como, apareceram pela primeira vez as menções a nomes e fatos hoje notórios.

    Um certo Pelé aparece substituindo o jogador Tite, num amistoso do Santos contra o Corinthians de Santo André, em setembro de 1956. Marcou um gol, aliás. A notícia não teria razão para sair com outro destaque do que aquele, magro, que lhe foi dedicado: um quadradinho, enfiado numa das oito colunas da página 7, pouco antes do resultado de Ponte Preta e Ourofinense (4 a 2).

    As notícias, espremidas verticalmente nos jornais antigos –a tal ponto que mal se imagina que as pessoas fossem capazes de lê-la– acabam parecendo uma incansável, milionária sequência de chutes a gol, numa partida sem fim: a maioria dos fatos haverá de perder-se pela linha de fundo, e só no futuro se saberá o resultado.

    Sem dúvida, com um pouco mais de tempo e atenção, a reportagem poderia ter notado que Pelé, naquele jogo amistoso, não teria nem 16 anos. Mas fazer um gol contra os reservas do Corinthians de Santo André não seria coisa tão espantosa assim. A menos que o gol tenha sido lindíssimo. A menos que, a menos que...

    Os jornalistas já estavam mais experientes com prodígios, no futebol e em outras áreas, em 2004. Lionel Messi, então com 16 anos, aparece mencionado pela primeira vez na Folha numa coluna de Rodrigo Bueno.

    Steve Jobs surge para o jornal em 1983, numa coluna de Joelmir Beting, que se refere a Apple, surgida sete anos antes "numa oficina de fundo de quintal, pelas mãos de um talento precoce para a coisa".

    O texto se refere ao lançamento do computador Lisa, graças ao qual "o homem literalmente 'conversa' com a máquina, através de um 'cursor', apelidado de 'mouse'".

    Que cuidado não se precisa ter, penso agora, com as aspas. Nada envelhece tanto. Um texto mencionando Xuxa Meneghel, nos primórdios da carreira da apresentadora, só usa seu nome entre aspas.

    Era assim com a Aids (Paulo Francis, maio de 1983), "The Beatles" (já meio famosos, no fim de 1963), e com Brasília, nome sugerido para a nova capital por um leitor de Pouso Alegre em junho de 1955. Preferível, diz o sr. Silvio Fausto de Oliveira, ao de Vera Cruz, cotado na época.

    Não terá sido a primeira pessoa a aventar o nome. É provável que já se referisse a um dos que já estavam em discussão. Mas quem sabe? O sucesso e a notoriedade não se preveem facilmente.

    "Computador eletrônico" é um termo que a Folha começa a usar em fevereiro de 1960: um senador perguntara ao presidente do IBGE sobre a compra do tal aparelho pelo instituto. Mas talvez fosse mais comum, na época, falar em "cérebro eletrônico"; peguei, na infância, os estertores desse termo.

    Nascimentos e mortes de palavras ocorrem diariamente no jornal –e serão comuníssimos os casos das que não vingam. Ou de tantas coisas e pessoas que ficam na penumbra do conhecimento e da fama.

    O jovem Chico Buarque aparece numa foto de outubro de 1964. Embaixo, a legenda misteriosa: "A da direita não é irmã".

    Outras vezes, a menção é correta, tem o tamanho que deveria ter tido, e ninguém poderia saber o que viria pela frente. Jorge Bergoglio, atual papa, faz um discurso como arcebispo de Buenos Aires em texto de Clóvis Rossi (1999), Fernando Henrique Cardoso dá uma palestra sobre questão agrária (1960).

    Dilma Rousseff, ora vejam, anula uma concorrência fraudada no Rio Grande do Sul; era secretária de Minas e Energia daquele Estado em 1993. Já "o milionário saudita" Osama Bin Laden aparece como suspeito de terrorismo, pela primeira vez na Folha, em fevereiro de 2001. Não se erra o tempo todo.

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