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Poder
Monday, 18-Nov-2024 01:29:18 -03Índios que vivem no extremo sul de SP lutaram por demarcação por 30 anos
CAROLINA LINHARES
THIAGO AMÂNCIO
DE SÃO PAULO30/05/2016 02h00
A terra indígena Tenondé Porã, no extremo sul de São Paulo, foi uma das que teve o território declarado pelo Ministério da Justiça em maio.
A área demarcada tem 16 mil hectares e fica nos distritos de Parelheiros e Marsilac, na capital paulista, e na cidade de São Bernardo do Campo. São cerca de 2.000 indígenas do povo Guarani Mbya, divididos por seis aldeias.
A delimitação é importante, conta o cacique Elias Vera Mirim, 54, para se prevenirem da invasão de posseiros e caçadores, ou até mesmo de pessoas que usam o local para desmanche de carros –a vantagem, nesse caso, é a distância em relação ao centro.
Ele também chama a atenção para a preservação da mata ao redor. "Queremos que a mata Atlântica dure 100, 150 anos, porque vivemos dela", afirma.
Mas a mudança de governo os preocupa. "Tudo pode ir por água abaixo", diz Jera Porã, 34, uma das lideranças da tribo. "A ideia deles de país significa extrair mais do que já extraíram, não importa se tem terra indígena no local.".
"A gente corre risco sempre na questão dos direitos indígenas. Qualquer coisa que entre em Brasília a gente tem medo", diz o indígena Pedro Delane, 35.
"Tenondé Porã", significa, na língua falada pelos Guarani Mbya, "futuro melhor". Mas esse futuro demorou a chegar. Mais de 30 anos.
A luta pela demarcação é antiga. Em 1987 conseguiram 26 hectares, 0,16% do que têm hoje. Decidiram partir para a luta direta há três anos. Primeiro fecharam a rodovia dos Bandeirantes. Neste mês, protestaram na Prefeitura de São Bernardo do Campo e no escritório da Presidência em São Paulo, na avenida Paulista.
"Antes de tudo, temos nossa luta espiritual para conseguir força de Nhanderu [deus] para ocupar uma rodovia, para chegar até a Paulista, que a gente não conhece", diz Tiago Karai, 23, outra liderança.
Há guaranis em pelo menos sete Estados brasileiros (RS, SC, PR, SP, MS, RJ e ES), além do Paraguai, Argentina, Bolívia e Uruguai.
Em São Paulo, plantam mandioca, feijão, milho e batata doce, entre outros alimentos, mas não em escala suficiente para subsistência.
As fontes de renda da comunidade são salários de pessoas que trabalham nos órgãos governamentais da Terra Indígena –há uma escola, um posto de saúde e um centro cultural–, programas sociais como o Bolsa Família e o artesanato que vendem.
A proximidade de São Paulo trouxe problemas para as tribos. A represa Billings, que margeia o local, não serve mais para pescar. A caça também virou quase folclórica.
Música, reza e língua, porém, resistem: só falam em guarani entre si, mas há os que sequer sabem português e os rituais religiosos são seguidos diariamente.
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