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    Defesa de Dilma diz ao TSE que PMDB canalizou doação

    WÁLTER NUNES
    DE SÃO PAULO

    09/11/2016 02h00 - Atualizado às 19h00

    Paulo Lisboa - 20.jun.15/Folhapress
    CURITIBA, PR, BRASIL,20-06-2015, 10h15: 14ª FASE OPERAÇÃO LAVA-JATO - Presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, chega ao IML para realização de exame de corpo delito na manhã deste sábado, em Curitiba, 20. Foto: Paulo Lisboa/Folhapres, EXCLUSIVA)
    Otavio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, delator da Lava Jato

    A defesa da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) anexou no processo que corre contra sua chapa no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) documentos que indicam que R$ 1 milhão que a empreiteira Andrade Gutierrez deu à sua campanha de reeleição em 2014 entraram pela conta do então candidato a vice, Michel Temer (PMDB).

    Isso pode fragilizar a tese defendida por Temer, hoje presidente, de que sua arrecadação de campanha foi separada da de Dilma. O objetivo do peemedebista é afastar o risco de cassação pela Justiça Eleitoral da chapa reeleita em 2014.

    A quantia, registrada na Justiça Eleitoral, seria propina referente a obras do governo federal, segundo depoimento ao processo dado em setembro por Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade, delator da Lava Jato. Os documentos integram petição protocolada nesta terça (8) por Flávio Caetano, advogado de Dilma, para rebater Azevedo, segundo quem o R$ 1 milhão foi dado ao diretório nacional do PT.

    Reprodução
    Reproducao de cheque de R$ 1 milhao que a empreiteira Andrade Gutierrez doou para a reeleicao de Dilma Rousseff e de Michel Temer em 2014. A quantia, registrada na Justica Eleitoral, seria propina referente a obras do governo federal, segundo Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade, delator da Lava Jato. O cheque foi assinado no dia 10 de julho de 2014 e foi depositado na conta Eleicao 2014 Michel. O cheque foi assinado pelo senador Eunicio de Oliveira, entao tesoureiro do PMDB
    Reprodução de cheque de R$ 1 milhão doado pela Andrade Gutierrez a Temer, para a campanha de 2014

    A suposta propina, de acordo com Azevedo, seria referente a contratos da empresa com o governo federal, entre eles o consórcio da hidrelétrica de Belo Monte.

    Azevedo afirmou que estava sendo pressionado pelo tesoureiro da campanha de Dilma, Edinho Silva, a doar R$ 100 milhões para a chapa petista naquele ano. Edinho nega que tenha feito pressão.

    "Eu falei [a Edinho]: cara, você não tem ideia do que está falando. O total para todos os candidatos, o limite da Andrade, é R$ 104 milhões", disse Azevedo no depoimento.

    Em seguida, Azevedo disse ao ministro Herman Benjamin, relator das ações de cassação da chapa no TSE, que na data em que estava sendo pressionado pelo petista, a Andrade Gutierrez já havia feito uma doação de R$ 1 milhão ao PT.

    "Na verdade, nessa data, já tinha havido uma transferência de R$ 1 milhão feita no dia 14 de julho, parece, ou 10 de julho, do Diretório Nacional [do PT] para a campanha da Dilma. E na prestação de contas, está lá", diz Azevedo em depoimento. "Então, [aparecem] o doador, o partido e a Andrade Gutierrez como [doadora] originária", acrescenta.

    Azevedo disse que o R$ 1 milhão que entrou no caixa da campanha de Dilma e Temer em julho de 2014 tinha sido transferido pela empreiteira ao PT em março e fazia parte de um acordo que determinava que a construtora teria que pagar 1% de propina em cada contrato com o governo federal.

    "Por que nós fizemos a contribuição de R$ 1 milhão em março? Porque nós estávamos sofrendo pressão para cumprir obrigações dos acordos de contribuição dos 1% aí de cada projeto", disse.

    Azevedo diz no depoimento que doou, legalmente, ao diretório do PMDB cerca de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões. Desse montante, R$ 1 milhão teria ido para a conta do vice-presidente. Ele, no entanto, não apresenta datas desses depósitos.

    A DEFESA

    Para rebater a versão do empreiteiro, a defesa de Dilma voltou à prestação de contas do partido e confrontou os dados informados à Justiça Eleitoral em 2014 com o depoimento de Azevedo.

    Encontrou documentos mostrando que em 14 de julho houve realmente a entrada de R$ 1 milhão para a campanha, mas neles o CNPJ do doador era o diretório nacional do PMDB, e não do PT, como havia dito Azevedo.

    No anexo 112 da prestação de contas da chapa Dilma/Temer, os advogados encontraram o recibo eleitoral da transação de R$ 1 milhão feita pelo PMDB para a campanha, que indica como doador original do dinheiro a Construtora Andrade Gutierrez.

    Também anexaram no processo a cópia do cheque do PMDB nominal a "Eleição 2014 Michel Miguel Elias Temer Lulia Vice-Presidente". O cheque foi assinado no dia 10 de julho de 2014.

    Quatro dias depois, dois extratos bancários mostram que ele foi depositado na conta Eleição 2014 Michel, no Banco do Brasil. O cheque foi assinado pelo senador Eunício de Oliveira, então tesoureiro do PMDB.

    A defesa de Dilma quer que o depoimento de Azevedo seja considerado inválido por causa das inconsistências.

    OUTRO LADO

    A assessoria do presidente Michel Temer disse que Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, garantiu em seu depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral que o dinheiro doado à campanha do peemedebista não teria origem em propinas.

    O presidente já admitiu que pediu doação a Azevedo e que foi atendido, mas diz que tudo aconteceu dentro da legalidade.

    O advogado da ex-presidente Dilma Rousseff, Flávio Caetano, disse que Azevedo fez uma acusação falsa contra o PT e que os documentos anexados pela defesa da petista mostram que a prova testemunhal dele não deve ser considerada. Dilma teve o mandato cassado em agosto pelo Senado após processo de impeachment.

    Edinho Silva, tesoureiro da campanha de reeleição, afirma que "sempre teve a segurança de que a verdade iria se revelar no decorrer das investigações e uma delação sem materialidade não pode ser dada como verdade.

    Otávio Azevedo não quis se manifestar.

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