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    Após pregar 'chega de político' na eleição, Kalil agora diz que é político

    CAROLINA LINHARES
    DE BELO HORIZONTE

    20/04/2017 02h00

    Lincon Zarbietti - 2.abr.17/O Tempo
    CIDADES. BELO HORIZONTE, MG O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, visita as ocupacoes Rosa Leao, Vitoria e Esperanca, no algomerado Izidora. Ele reafirmou compromissos com a localidade como o de nao retirar os moradores de suas moradias. Alem disso, ele afirmou que o local sera tratado como bairro em sua gestao FOTO: LINCON ZARBIETTI / O TEMPO / 02.04.2017 *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
    O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), visita a Ocupação do Izidora

    Eleito com o slogan "chega de político", o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), afirma, após cem dias de governo, que "não sabia que era tão político".

    O empresário e ex-presidente do Atlético Mineiro foi a Brasília negociar repasses federais e teve que costurar pessoalmente uma base na Câmara Municipal. Ele continua, porém, se diferenciando como "novo".

    "Eu fiz a boa política. Há uma nova mentalidade de não distribuição de cargos. Isso é o que vai colar no Brasil daqui pra frente", diz em entrevista à Folha. "Quem brincar com dinheiro no poder público agora vai ficar sem ele", completa.

    Com uma reforma administrativa a ser enviada para a Câmara neste mês, que prevê corte de secretarias e de cargos comissionados, Kalil foi questionado pelo gasto de R$ 39.850 para fretar um voo a Brasília em março —a despesa foi publicada no Diário Oficial.

    Com o presidente Michel Temer (PMDB) e com a bancada mineira, falou sobre reativar o aeroporto da Pampulha e acertou recursos para o Hospital do Barreiro. Kalil disse ter recorrido ao jato porque a agenda surgiu na última hora. "O importante é o seguinte: esse tipo caipira de ser, nós não somos mais. Tem que ver o tamanho do que nós fomos resolver lá. Eu não fui fazer visita de cortesia pra ver a cara de Michel Temer."

    "O mineiro tem isso. Ele acha que o prefeito de Belo Horizonte não pode fretar um avião. Quer dizer, o prefeito da terceira capital do país tem um problema pra resolver, abre uma agenda com o presidente da República e tem que ir para o aeroporto ver se tem horário de voo pra ele e ficar na fila", completa Kalil, questionado sobre "o jeito caipira".

    O prefeito tem se voltado para a saúde, área que considera o maior desafio. Direcionou recursos para dois outros hospitais e anunciou pelas redes sociais, como de costume, reformas em todos os centros de saúde de Belo Horizonte. Para Kalil, contudo, sua grande vitória foi "dar paz para o pessoal da Ocupação do Izidora", onde vivem 8.000 famílias. A prefeitura desistiu das ações de reintegração de posse do local.

    Ainda no plano federal, Kalil promete entrar na briga entre o governo de Minas Gerais, de Fernando Pimentel (PT), e o governo federal pelo repasse de ao menos R$ 87 bilhões em ressarcimentos pela Lei Kandir. Os municípios têm direito a 25% do montante, e o prefeito calcula em cerca de R$ 10 bilhões a parte de Belo Horizonte, quase o Orçamento anual da cidade.

    "Com o Estado em calamidade financeira, não tem hora melhor para a federação resolver o problema pagando o que deve. Enquanto todos pegaram royalties do petróleo, fizeram mundos e fundos e hoje estão falidos, tiraram o dinheiro de Minas Gerais", afirma.

    DE BARBA

    Disputar o governo de Minas está fora de cogitação —tentar reeleição, nem tanto. Kalil diz que é cedo para pensar em quem apoiará em 2018. "A eleição é ano que vem, mas acontece que está vindo aí um tsunami."

    O prefeito recebeu a Folha em meio a uma maratona de atendimento à imprensa em seu gabinete no último dia 11, quando vieram à tona inquéritos contra 98 pessoas com base nas delações da Odebrecht. "Brasília está pegando fogo", disse. "E se alguém morrer queimado lá agora? Vou me posicionar na hora que achar que deva."

    Presidente do PHS, Eduardo Machado afirmou que é um sonho de consumo ter Jair Bolsonaro (PSC-RJ) como candidato ao Planalto pela sigla. Kalil rebate: "não acho que nenhum candidato hoje no Brasil seja sonho de consumo".

    Pré-candidato pelo PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, saiu na frente e convidou o prefeito de BH para jantar, mas o encontro acabou cancelado. "Tive que adiar porque nada mais importante do que o aniversário do meu filho", explica Kalil.

    Amira Hissa - 11.abr.17/Divulgação PBH
    O prefeito Alexandre Kalil (PHS) em seu gabinete na Prefeitura de Belo Horizonte
    O prefeito Alexandre Kalil (PHS) durante entrevista em seu gabinete

    Os tucanos, representados por João Leite, foram os adversários do prefeito em uma "campanha sórdida". A raiva por se sentir "humilhado e ofendido", Kalil descontou no cacique da sigla no Estado, o senador Aécio Neves. Chegou a gravar um vídeo em tom de alerta: "Cuidado que o príncipe [Aécio] vai para gaiola".

    "A campanha acabou e o que eu falei está gravado. É um assunto que me constrange hoje, mas na época não me constrangeu, não me arrependo. Naquele vídeo, eu tenho pra mim, que ganhei a eleição", disse.

    Neste ano, prefeito e senador se cruzaram nos corredores do Congresso, mas Aécio não percebeu e Kalil questionou-se: "será que ele tá virando a cara pra mim?". Kalil diz que, imediatamente, seu telefone tocou e era Aécio: "Uai, Kalil, você tá de barba? Eu não te conheci, nós precisamos sentar e conversar". "Estou de barba mesmo, senador, mas nós vamos pôr nossa conversa em dia, não se preocupe", respondeu.

    BASE DO BEM

    Com a primeira derrota na Câmara, Kalil trocou o líder de governo, passou a receber os vereadores e atender suas demandas regionais. "Eu errei de não conduzir pessoalmente esse assunto da Câmara. Mas, graças a Deus, hoje tem uma base formada. Uma base do bem, que quer o bem da cidade, que vai dar tudo certo", afirma.

    Novas dores de cabeça vieram, no entanto, do alto escalão do governo. Leônidas Oliveira, presidente da Fundação Municipal de Cultura, pediu demissão. Daniel Nepomuceno, ex-vereador, atual presidente do Atlético e secretário de Desenvolvimento, pediu licença não remunerada para ir à Itália assistir a um jogo da Champions League, conforme dedurou uma foto em rede social.

    Adriana Branco, ex-diretora do Atlético e secretária de Comunicação, fez o mesmo para acompanhar o Galo em Buenos Aires. Nepomuceno já havia se ausentado em janeiro para negociar um jogador em Portugal. "Eu vou conversar com ele. Eu não sabia, honestamente, que ele estava na Itália. Acho que ele deveria estar aqui", diz Kalil.

    Entre os problemas da prefeitura e os que tinha no Atlético, Kalil prefere a nova vida. "O prefeito tem uma vantagem. Se fizer tudo certinho, acredito que no final vai dar certo. No futebol, quando você faz tudo certinho, a bola ainda tem que entrar na casinha."

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